quinta-feira, dezembro 14, 2006

 

MAIS TRABALHO E MENOS LAMENTOS!

Chove duas semanas seguidas e ai as cheias. Um Dezembro ensolarado e é a tragédia da seca no Verão. Está no sangue: queixamo-nos porque sim e porque não. E os empresários, como bons patriotas, não fogem à regra. Não gostam que o Estado se meta na vida deles, mas quando o Governo corta nos subsídios ou nos apoios fiscais, esquecem a matriz liberal e aqui d’el Rei que o poder político não apoia as empresas.

As fortes valorizações do euro face ao dólar, registadas ultimamente no mercado cambial, são mais uma situação de potencial descontentamento de empresários e economistas. Até porque atinge parte do sector exportador que é, neste momento, o único motor da economia portuguesa. E o pior, ao que tudo indica, é que a moeda única forte veio para ficar. Portanto, mais umas semanas assim, e lá teremos os lamentos do costume: a retoma está em perigo e a luz que se vê ao fundo do túnel não é a salvação mas o comboio que vem contra nós. Ou não. Será diferente desta vez? Será que os empresários vão enfrentar o problema?

A desvalorização do dólar é uma tendência certa no futuro próximo. Primeiro, porque o défice externo norte-americano (6,6% do PIB) assim obriga para que se registe a devida correcção. Em segundo, porque o diferencial positivo dos juros a favor da Europa, em conjunto com projecções mais sombrias para a economia americana, é incentivo suficiente para os investidores internacionais venderem activos em moeda verde e reforçarem em euros.

Ainda assim, não é certo que no final a economia portuguesa seja prejudicada. É verdade que a moeda única forte dificulta as exportações para fora da zona euro, porque ficam mais caras quando o preço passa a estar denominado em dólares. Contudo, somente 20% das vendas nacionais são para fora da Europa. Ou seja, a esmagadora maioria das exportações estão protegidas pelo chapéu do euro. Por outro lado, dólar fraco é sinónimo de importações mais baratas de petróleo, o que significa fortes poupanças num importante factor de custos das empresas. Ou seja, uma condição relevante para que haja estabilidade de preços.

Conclusão: o perigo deste movimento cambial recai sobre um pequeno grupo de empresários, mas que não devem ser menosprezados. São os que têm a coragem de desbravar outros mercados, potencialmente mais difíceis pelo desconhecimento que existe, e que estão na vanguarda da economia nacional. O significativo crescimento das exportações este ano está a ser garantido pelas vendas nos Estados Unidos, Angola, Brasil e restante América Latina. O dólar fraco pode matar à nascença esta mudança estrutural e fundamental para a economia. Cabe aos empresários provarem a sua raça e combaterem a pior das idiossincrasias nacionais. Não se lamentem, trabalhem mais e melhor.

Carlos Marques Sousa

in http://tribuna-publica.blogspot.com/

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