sexta-feira, maio 20, 2005

 

Dia das mentiras

Já todos percebemos o que se vai passar nos próximos dias ou meses. Vamos assistir à rábula da “tanga” em nova versão.

A semana que hoje termina foi excelente para Portugal, e não estou a ironizar. Depois de alguns meses de ilusões, baseadas em coisa nenhuma, percebemos que o nosso défice vai a caminho dos 7%, que o nosso desemprego não pára de subir e ainda vai subir bastante, que os impostos vão aumentar e que as nossas equipas de futebol são de uma miséria franciscana e estão falidas. Digo isto, porque o pior que pode acontecer a um país é viver em ilusão permanente. Para que tudo isto seja perfeito, só falta o Benfica perder o campeonato e colocar o país numa depressão profunda.

Tudo isto escrito por uma pessoa moderadamente optimista (categoria em que me coloco ou me tento colocar), parece um absurdo mas é a única maneira de o Governo deixar de estar preso ao que prometeu na campanha eleitoral. Todos sabemos que a campanha eleitoral para as legislativas é, em sentido lato, um dia das mentiras em versão alargada – sabe quem mente e sabe quem ouve. O que é mais estranho é que o Governo continue, meses depois da campanha, a desmentir ou a adiar aquilo que todos sabemos que vai acontecer. O caso das SCUTS e do IVA é o mais absurdo.

Não é preciso ser um génio das finanças para se perceber que o modelo das SCUTS é insustentável nos próximos anos, altura em que o Orçamento de Estado mais vai ter que desembolsar para compensar as “portagens virtuais”. Por várias vezes o PS e o Governo deram a entender que teriam de rever algumas das SCUTS e até já explicaram em que condições e porquê podem rever a inexistência das portagens. Mas, inexplicavelmente, recuam no próprio dia, dizendo que ainda estão a estudar o assunto. Mas estão a estudar o quê? A questão das portagens virtuais estuda-se numa tarde! A única coisa que não se estuda (nem que se demore dois meses) é a dimensão dos protestos, boicotes e cortes de estrada que vão existir. Aposto que são as estas as questões que o governo está a estudar...

A outra, mais espantosa, é a do IVA. E digo “mais espantosa” porque, ainda durante a campanha eleitoral, o então porta-voz Manuel Pinho descaiu-se e deu a entender que a subida da taxa máxima do IVA seria inevitável. Foi logo desmentido e o Governo do PS ainda hoje está a pagar esse desmentido.

É fácil perceber o desespero de Luís Campos e Cunha: o País está uma desgraça, a economia não vai crescer grande coisa, os custos sociais vão aumentar muito e as promessas da campanha e do programa de Governo atrapalham muito. A única boa notícia para Campos e Cunha vem da máquina fiscal, onde Paulo Macedo, contra todas as expectativas, tem feito um bom trabalho e está a fazer, pela primeira vez, com que os portugueses passem a ter medo das Finanças. Bem ou mal, foi assim que o Fisco se endireitou em Espanha e é assim que está direito nos EUA.

É claro que já todos percebemos o que se vai passar nos próximos dias ou meses. Vamos assistir à rábula da “tanga” em nova versão:
1. Vítor Constâncio divulga um défice brutal.

2. O Governo deita as mãos à cabeça.

3. O Governo culpa o executivo anterior.

4. Sócrates pede desculpa ao país e diz que não vai poder cumprir o que prometeu.

5. Campos e Cunha começa a trabalhar e receita Prozac aos portugueses e a si mesmo.

Conclusão: porque é que, ao fim de muitos anos, temos sempre a sensação de que não saímos do mesmo sítio?


Ricardo Costa

www.diarioeconomico.com

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