quinta-feira, maio 19, 2005

 

A esperteza saloia

Sócrates é um senhor muito esperto. Ele estudou bem a lição e aprendeu com os erros de Barroso: Nunca se deve começar a governar dizendo que afinal a situação é grave. Quando numa campanha eleitoral se promete optimismo e confiança, os primeiros meses de governo têm de comprovar a tentativa de incutir esse optimismo e confiança nos portugueses. Só depois, quando o Presidente do Banco de Portugal apresenta o relatório das contas públicas é que surge a oportunidade de, como quem foi apanhado de surpresa, cair na real e mudar para uma política de rigor e sacrifício. De nada interessa que Constâncio viesse a alertar para o estado das contas públicas há anos. Para um tipo esperto como o nosso Primeiro-Ministro só conta o que ele disse agora em Maio. Só agora Sócrates ficou surpreendido, só agora, com a surpresa estampada no rosto, ele pode dizer que afinal a confiança não basta, que nem tudo é uma questão ideológica.

Estou muito satisfeito. Desde há vários anos que não tínhamos um chefe de governo assim tão esperto. Ele é a esperteza em pessoa e nós, que ouvimos e aceitamos tudo com a pureza dos estúpidos, somos os saloios. Na verdade, estamos todos bem entregues.

por André Abrantes Amaral

www.oinsurgente.blogspot.com

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