quinta-feira, maio 12, 2005
Portugal visto de Espanha
Há pouco tempo um amigo enviou-me uma cópia de um artigo de jornal escrito em castelhano e que falava de Portugal. Ler aquele artigo foi um choque muito violento. E foi tão mais violento porque não só as estatísticas referidas no texto se aproximam muito da realidade que todos conhecemos, como eram evidenciadas, preto no branco, pelos espanhóis.
Foi muito humilhante ler acerca da nossa indústria têxtil que "... os empresarios no realizaron los necessarios ajustes para actualizarla. Pero la zona del Norte donde se encouentra el sector textil tiene mas autos Ferrari por metro quadrado que Italia"; ou citações de analistas portugueses como Perez Metello "Los únicos contribuyentes a cabalidad de las arcas del Estado son los trabajadores contratados, que descuentam en la forza laboral"; ou a visão de um Executivo espanhol acerca da experiência com empresários portugueses "están mas interesados en la imagen que proyetan que en el resultado de su trabajo"; ou ainda que " con más profesores por cantidad de alumnos que la mayor parte de los miembros de la OCDE, tampoco consigue dar una educación y formacion profesional competitivas con el resto de los países industrializados"..... É que nós já sabemos tudo isto, mas dói muito mais quando são os estrangeiros que vêm por a nu as nossas desgraças. E a farpa dói ainda mais quando esses estrangeiros são os nossos vizinhos...
Se eu hoje pensasse em qualquer feito positivo que rapidamente pudesse contrapor, ao ler aquele texto, só me lembraria de acrescentar os nossos resultados no futebol e, claro está, o Mourinho.
O futebol é de facto o nosso motivo de orgulho nacional e os Figos e os Mourinhos o nosso melhor produto de exportação... De resto, rebuscando bem no baú da memória, que mais poderia eu argumentar a nosso favor e face a um povo que conseguiu provar que era possível apanhar o comboio da Europa, mesmo partindo do "grupo dos pobres" da União Europeia. Só nós fomos ficando para trás, olhando para o nosso umbigo e sempre orgulhosos de nós próprios pobrezinhos mas honrados (!), o fado e o bacalhau, o sol e a simpatia...
Creio, contudo, que nas novas gerações começam a emergir hoje muitos jovens com uma experiência internacional. Os programas de intercâmbio universitários e a crescente mobilidade internacional estão a dar origem a gerações menos provincianas, de horizontes mais alargados e cujas ambições já não são meramente os símbolos de um "novo-riquismo" insuportável que dominou a década de 90. Criar uma geração de empreendedores dispostos a correr risco e com uma cultura de competição vai ser a única chance para um país que se habituou a viver à custa dos subsídios comunitários.
Mas o actual Governo vai ter uma grande responsabilidade na forma como vai traçar as grandes directivas para os próximos quatro anos. Torna-se imperativo um desempenho de grande coragem e rigor para poder devolver à classe política em Portugal a credibilidade que foi perdendo nos últimos 10 anos. Só com uma liderança forte será possível efectuar as reformas urgentes, adiadas ao longo dos anos, e impulsionar a economia para a trajectória de convergência.
Fátima Barros
Foi muito humilhante ler acerca da nossa indústria têxtil que "... os empresarios no realizaron los necessarios ajustes para actualizarla. Pero la zona del Norte donde se encouentra el sector textil tiene mas autos Ferrari por metro quadrado que Italia"; ou citações de analistas portugueses como Perez Metello "Los únicos contribuyentes a cabalidad de las arcas del Estado son los trabajadores contratados, que descuentam en la forza laboral"; ou a visão de um Executivo espanhol acerca da experiência com empresários portugueses "están mas interesados en la imagen que proyetan que en el resultado de su trabajo"; ou ainda que " con más profesores por cantidad de alumnos que la mayor parte de los miembros de la OCDE, tampoco consigue dar una educación y formacion profesional competitivas con el resto de los países industrializados"..... É que nós já sabemos tudo isto, mas dói muito mais quando são os estrangeiros que vêm por a nu as nossas desgraças. E a farpa dói ainda mais quando esses estrangeiros são os nossos vizinhos...
Se eu hoje pensasse em qualquer feito positivo que rapidamente pudesse contrapor, ao ler aquele texto, só me lembraria de acrescentar os nossos resultados no futebol e, claro está, o Mourinho.
O futebol é de facto o nosso motivo de orgulho nacional e os Figos e os Mourinhos o nosso melhor produto de exportação... De resto, rebuscando bem no baú da memória, que mais poderia eu argumentar a nosso favor e face a um povo que conseguiu provar que era possível apanhar o comboio da Europa, mesmo partindo do "grupo dos pobres" da União Europeia. Só nós fomos ficando para trás, olhando para o nosso umbigo e sempre orgulhosos de nós próprios pobrezinhos mas honrados (!), o fado e o bacalhau, o sol e a simpatia...
Creio, contudo, que nas novas gerações começam a emergir hoje muitos jovens com uma experiência internacional. Os programas de intercâmbio universitários e a crescente mobilidade internacional estão a dar origem a gerações menos provincianas, de horizontes mais alargados e cujas ambições já não são meramente os símbolos de um "novo-riquismo" insuportável que dominou a década de 90. Criar uma geração de empreendedores dispostos a correr risco e com uma cultura de competição vai ser a única chance para um país que se habituou a viver à custa dos subsídios comunitários.
Mas o actual Governo vai ter uma grande responsabilidade na forma como vai traçar as grandes directivas para os próximos quatro anos. Torna-se imperativo um desempenho de grande coragem e rigor para poder devolver à classe política em Portugal a credibilidade que foi perdendo nos últimos 10 anos. Só com uma liderança forte será possível efectuar as reformas urgentes, adiadas ao longo dos anos, e impulsionar a economia para a trajectória de convergência.
Fátima Barros