quinta-feira, junho 09, 2005
DÉFICE DE HONESTIDADE
Como mais uma vez ficou demonstrado, o principal défice de Portugal é de honestidade. José Sócrates não sabia qual era a verdadeira dimensão do défice? Não me digam que, em dez milhões de portugueses, fomos logo escolher o único português que não sabia que isto estava a bater no fundo...
É óbvio que José Sócrates sabia, como, aliás, toda a gente sabia. Há dois anos que não se fala de outra coisa. Sabia e mentiu descaradamente aos portugueses, fazendo promessas que sabia que não podia cumprir, com o único objectivo de lhes sacar o voto. Mas os eleitores portugueses, em boa verdade, também não têm muita razões para se queixar. Os nossos políticos, no fundo, são o espelho fiel dos seus eleitores. E se somos um povo de aldrabões e troca-tintas...
Mas já que estamos a falar do défice, chegou porventura o momento de nos começarmos a consciencializar do preço que vamos começar a pagar, não só pela chamada «obra feita» de que os nossos autarcas tanto se orgulham como sobretudo por lhe termos passado o livro de cheques para a mão.
O nosso autarca é feito da mesma massa que nós. Dêem a um português dinheiro para gastar e vejam como ele o gasta: um bruto palácio com uma bruta piscina e bruto carro à porta. Depois é comida e bebida à descrição. Quando um português tem dinheiro, todos os amigos são ricos. Uma coisa é certa: português com dinheiro ou com crédito só pensa em gastar, raramente pensa em investir.
Os nossos autarcas funcionam da mesma forma. As nossas vilas e cidades estão um luxo: são estádios, piscinas, cinemas, salas de espectáculos, bibliotecas, anfiteatros, rotundas, zonas de lazer, parques, etc. etc. etc. E tudo com todos os requintes de novorriquismo. À grande e à portuguesa. Isto custa dinheiro? Alguém há-de pagar.
Ora, para ostentar toda esta obra, as nossas autarquias endividaram-se até ao tutano. Acontece que praticamente todos os seus investimentos foram «não produtivos». É o tal “investimento” à portuguesa no palácio com piscina... É muito bonito para quem tem dinheiro para sustentar a extravagância, mas é um mau princípio para quem se endivida. Com a agravante de ainda sobrar o custo de manutenção desses equipamentos....
Acresce que, à boa maneira portuguesa quando se trabalha com o dinheiro do Estado, ninguém se preocupa com a multiplicação dos seus custos em relação ao que está orçamentado. Aliás, toda a gente fica feliz com isso.
Eis a obra feita de que os nossos autarcas tanto se orgulham e que nos vai custar os olhos da cara.
Mas se a extravagância se resumisse às obras, de mal o menos. Só que depois há toda uma série de apaniguados para sustentar e votos para garantir. E com isto vai mais uma pipa de massa: em empregos, subsídios, viagens ao estrangeiro, geminações, programas culturais que ninguém vê, almoços e jantares para toda a gente, etc. etc. etc.
E é assim que um país pobre e com fraca produtividade tem esbanjado o dinheiro: ou a apaparicar os apaniguados dos nossos autarcas ou em obras faraónicas, que custam duas e três vezes mais do que o orçamentado e que, a maior parte das vezes, não estão sequer dimensionadas às populações que visam servir.
À conta destas extravagâncias, temos hoje o país a «pão e água». Só que isso de pouco vale, se não se retirar o livro de cheques a esta gente.
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha
É óbvio que José Sócrates sabia, como, aliás, toda a gente sabia. Há dois anos que não se fala de outra coisa. Sabia e mentiu descaradamente aos portugueses, fazendo promessas que sabia que não podia cumprir, com o único objectivo de lhes sacar o voto. Mas os eleitores portugueses, em boa verdade, também não têm muita razões para se queixar. Os nossos políticos, no fundo, são o espelho fiel dos seus eleitores. E se somos um povo de aldrabões e troca-tintas...
Mas já que estamos a falar do défice, chegou porventura o momento de nos começarmos a consciencializar do preço que vamos começar a pagar, não só pela chamada «obra feita» de que os nossos autarcas tanto se orgulham como sobretudo por lhe termos passado o livro de cheques para a mão.
O nosso autarca é feito da mesma massa que nós. Dêem a um português dinheiro para gastar e vejam como ele o gasta: um bruto palácio com uma bruta piscina e bruto carro à porta. Depois é comida e bebida à descrição. Quando um português tem dinheiro, todos os amigos são ricos. Uma coisa é certa: português com dinheiro ou com crédito só pensa em gastar, raramente pensa em investir.
Os nossos autarcas funcionam da mesma forma. As nossas vilas e cidades estão um luxo: são estádios, piscinas, cinemas, salas de espectáculos, bibliotecas, anfiteatros, rotundas, zonas de lazer, parques, etc. etc. etc. E tudo com todos os requintes de novorriquismo. À grande e à portuguesa. Isto custa dinheiro? Alguém há-de pagar.
Ora, para ostentar toda esta obra, as nossas autarquias endividaram-se até ao tutano. Acontece que praticamente todos os seus investimentos foram «não produtivos». É o tal “investimento” à portuguesa no palácio com piscina... É muito bonito para quem tem dinheiro para sustentar a extravagância, mas é um mau princípio para quem se endivida. Com a agravante de ainda sobrar o custo de manutenção desses equipamentos....
Acresce que, à boa maneira portuguesa quando se trabalha com o dinheiro do Estado, ninguém se preocupa com a multiplicação dos seus custos em relação ao que está orçamentado. Aliás, toda a gente fica feliz com isso.
Eis a obra feita de que os nossos autarcas tanto se orgulham e que nos vai custar os olhos da cara.
Mas se a extravagância se resumisse às obras, de mal o menos. Só que depois há toda uma série de apaniguados para sustentar e votos para garantir. E com isto vai mais uma pipa de massa: em empregos, subsídios, viagens ao estrangeiro, geminações, programas culturais que ninguém vê, almoços e jantares para toda a gente, etc. etc. etc.
E é assim que um país pobre e com fraca produtividade tem esbanjado o dinheiro: ou a apaparicar os apaniguados dos nossos autarcas ou em obras faraónicas, que custam duas e três vezes mais do que o orçamentado e que, a maior parte das vezes, não estão sequer dimensionadas às populações que visam servir.
À conta destas extravagâncias, temos hoje o país a «pão e água». Só que isso de pouco vale, se não se retirar o livro de cheques a esta gente.
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha