sábado, julho 16, 2005

 

O PRESIDENTE, OS PROFESSORES E A MINISTRA

Os portugueses, na sua saloiice, regressam quase sempre do estrangeiro carregados de histórias perfeitamente mirabolantes e inverosímeis com as quais pretendem conquistar a atenção e a admiração dos seus companheiros da bica. Pensava, no entanto, que o nosso Presidente da República estaria imune a estas fantasias. Pelos vistos, não está.
Com que então, senhor Presidente, os professores na Finlândia passam na escola com os seus alunos 50 horas por semana? E não deve ser por muito tempo, porque, segundo parece, uma das principais reivindicações dos sindicatos finlandeses é a semana das 60 horas semanais. Pelo menos.
Esta afirmação do senhor Presidente, apesar de totalmente fantasiosa, revela, no entanto, aquilo que a nossa classe política, em particular, e os portugueses, em geral, esperam da escola e dos professores. Ou seja, que os professores sejam as amas dos seus meninos. E amas à moda antiga, obviamente, daquelas que dormiam e comiam na casa dos patrões, sem direito a férias ou fins-de-semana e tudo isso a troco de uma ninharia.
Competência científica? Isso custa dinheiro. O que interessa são professores disponíveis, dóceis, pouco ambiciosos e de vistas curtas, que nos guardem os nossos filhos sem sobrecarregar o orçamento de Estado.
O ataque que o governo socialista, secundado pelo Presidente da República, desencadeou, nos últimos meses, contra o prestígio e a dignidade da classe docente é, no mínimo, revoltante, porque tremendamente injusto.
Os nossos governantes, durante anos a fio, com a introdução de reformas atrás de reformas, cada uma pior do que a outra, destruíram totalmente o nosso sistema de ensino. Se hoje ainda alguma coisa resta, tal deve-se apenas à estóica resistência dos professores.
Ai de quem se atrevesse a reprovar um aluno... Era logo castigado com uma chusma de papéis para preencher e de relatórios para entregar. E se a percentagem de negativas, então, fosse elevada, o professor tinha logo o inspector à perna. E ai de quem se atrevesse a instaurar um processo disciplinar a um aluno... O resultado era impreterivelmente a condenação do professor, que não tinha utilizado as estratégias adequadas, e a absolvição do aluno.
Criaram um monstro e agora têm o descaramento de vir apontar o dedo acusador aos professores que têm sido as vítimas directas do sistema... (É, nestas alturas, que tenho uma pena enorme de não ser o Alberto João Jardim...).
O mal, no entanto, é os professores não terem hoje uma classe, nem sindicatos que os defendam. Antigamente, havia os professores primários e os professores do liceu. Ambos prestigiados pelo seu raio de acção muito bem definido. Hoje, misturaram tudo no mesmo saco. E, como nos ensina a Matemática, menos por mais dá sempre menos. Ou seja, hoje somos todos professores primários. Ou melhor, educadores de infância.
Aliás, basta ouvir os sindicatos falar em nome dos professores para percebermos isso de imediato. E agora até a Confederação das Associações tem como seu presidente um professor primário que cada vez que abre a boca, em vez de falar como pai, só fala como professor primário, como se o seu único objectivo fosse transformar todas as escolas, desde o jardim de infância até à universidade, em escolas primárias. (Já ouviram falar o homem no “Adulto-Significante”? E depois admiram-se de o ensino estar como está...).
Mas também não vale a pena dramatizar. Já lá vai o tempo em que se chumbava na 2ª classe por não se saber que Lisboa era a capital de Portugal ou que os Açores faziam parte da República Portuguesa... Agora, pelos vistos, até já se pode ser professora catedrática ou Ministra da Educação sem saber isto.

Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha

Comments:
Dizem que Taveira Pinto indicou o irmão para director do Centro de Emprego. Se isso for verdade é um escândalo. É a prova provada de que vivemos num concelho dirigido por um ditador sul-americano.
 
O Dr. Santana-Maia fala como advogado ou como professor? O que feito daquela promessa feita em 1997? Lembra-se? Que se ia mudar para Viseu? Ainda está em Ponte de Sor, ou não?
 
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