quinta-feira, setembro 08, 2005

 

O DIABO DA CRUZ

A vitória de José Sócrates nas legislativas veio deitar por terra as velhas teorias dos sábios ideólogos socialistas que anteviam como única via para o poder uma abrangente coligação de esquerda que reunisse socialistas, comunistas e bloquistas. Se estas eleições demonstraram alguma coisa, é que o povo português foge dos extremos como o diabo da cruz. E bastou a José Sócrates puxar o partido socialista para o centro do espectro político para ganhar as eleições de forma categórica, sem precisar, sequer, de avançar com uma única ideia digna desse nome.

Resumindo: hoje em dia, mais importante do que divisão Esquerda e Direita é a divisão entre Moderados e Radicais. Ou seja, entre aqueles que são democratas por convicção e os que são democratas por conveniência. Por essa razão, é muito mais fácil a um eleitor social-democrata votar nos socialistas e vice-versa do que votar nos comunistas, no Bloco de Esquerda ou no CDS.

Isto não significa, obviamente, que eu considere que a distinção entre Esquerda e Direita já não faz sentido. Antes pelo contrário.

(Quando falo aqui em Direita e Esquerda, refiro-me obviamente à direita e esquerda moderadas, vulgo centro-direita e centro-esquerda, uma vez que a diferença entre a direita trauliteira e a esquerda comunista é mais de forma do que de substância)

A Direita norteia-se pela ideia de Liberdade, privilegia o Trabalho, premeia a Qualidade, tem uma consciência ética e preocupa-se com o ser humano; por sua vez, a Esquerda, norteia-se pela ideia de Igualdade, privilegia o Emprego, premeia a Mediocridade, tem uma consciência ideológica e preocupa-se com a Humanidade. Para a Direita, quem produz mais e melhor deve ganhar mais; por sua vez, para a Esquerda, dois operários com a mesma categoria profissional devem ganhar o mesmo, independentemente da qualidade do trabalho prestado. Para a Direita, uma ditadura é uma ditadura e um preso político é um preso político; para a Esquerda, existem umas ditaduras e uns presos políticos que são mais iguais do que outros. Para a Direita, o primeiro responsável por um determinado acto é quem o pratica; para a Esquerda, o responsável é sempre e invariavelmente a sociedade ou o sistema.

Se perguntarem aos portugueses qual a sua área política, mais de 70% responderão, sem pestanejar, que são de centro-esquerda, mesmo não sabendo explicar porquê. Mas a verdade é que são mesmo. E até é fácil perceber porquê.





Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha

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