domingo, outubro 02, 2005
MORTE DE GALILEU OU O ELOGIO DA ESTUPIDEZ (cont.)
Na revista Sábado da semana passada, vinham os horários dos melhores alunos a Matemática. A maioria tem o seguinte horário: aulas das 8H30 às 13H30, sendo a tarde dedicada ao estudo.
Felizmente ainda há neste país estabelecimentos de ensino com horários feitos por pessoas e para pessoas, entendendo-se por pessoa, obviamente, um ser vivo com alguma massa cinzenta. Aulas das 8H30 às 13H30 é, claramente, o único horário escolar capaz de rentabilizar os saberes e de combater o insucesso escolar, porque não só dá tempo a todos de assimilar as matérias leccionadas, sem se dispersarem por uma infinidade de disciplinas absolutamente inúteis e desgastantes, como também permite manter um ritmo mais intenso de aprendizagem. Com efeito, a tarde livre permite, aos bons alunos, progredir ainda mais, desbravar novos caminhos, sem estar vinculado ao ritmo da sala de aula; e, aos menos bons, dá-lhes tempo para recuperar e assimilar as matérias dadas.
Se, nas nossas escolas (irracionais) públicas, os horários dos nossos alunos fossem idênticos, seria lógico que a escola se organizasse por forma a oferecer aos seus alunos, da parte da tarde, toda uma série de actividades extra-curriculares: umas, destinadas aos alunos com mais dificuldades, no sentido de os recuperar e de lhes dar apoio (salas de estudo, aulas de apoio, centros de explicação, etc.); outras, de carácter formativo e educativo, dirigidas a toda a comunidade educativa (cursos de aperfeiçoamento de línguas, grupos de teatro, de poesia, musicais, experimentais, a rádio-escola, o jornal, o desporto escolar, etc.).
Acontece que isto é absolutamente impossível de implementar na escola (irracional) pública onde os alunos entram às 8H30 e saem às 17H30, com horários com mais de 40 horas de aulas.
Aulas de apoio? Salas de estudo? Centros de explicação? Com que alunos e a que horas?
Há pessoas que ainda não perceberam que tanto se morre de fome como de fartura. E que é tão estúpido obrigar uma pessoa a comer até vomitar como obrigar um aluno a continuar a digerir matérias depois de ter papado 8 horas seguidas de aulas (É óbvio que há alunos verdadeiramente extraordinários e com uma resistência a toda a prova que aguentam cargas elevadíssimas. Só que a escolaridade obrigatória impõe uma escola para todos e não apenas para uma elite de super-homens).
Na situação actual (alunos com mais de 40 horas lectivas por semana), um furo no seu horário, desde que seja episódico, é uma benção dos céus. Hoje, uma das principais causas do insucesso escolar é precisamente a sobrecarga lectiva dos horários dos alunos. É, aliás, por essa razão que as aulas de apoio educativo aos alunos com mais dificuldades se têm revelado completamente inúteis. Com efeito, alunos com 40 horas lectivas por semana não têm tempo, nem disposição mental, para mais nada.
Ora, o facto de os alunos passarem agora a ser obrigados a permanecer enclausurados dentro de uma sala de aula, sem que exista qualquer motivo justificativo para tal, vai ser mais um factor a potenciar a sua indisciplina e rebeldia. Necessariamente.
Nunca como hoje a célebre canção dos Pink Floyd foi tão actual: «Hey, teacher, leave the kids alone!». E o que é triste é que é precisamente a geração que imortalizou esta canção que agora nos governa. A tal geração rasca que concluiu os seus cursos graças às passagens administrativas do pós-25 de Abril e que, certamente, por isso não tem agora a preparação suficiente para nos governar.
(continua)
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha
Felizmente ainda há neste país estabelecimentos de ensino com horários feitos por pessoas e para pessoas, entendendo-se por pessoa, obviamente, um ser vivo com alguma massa cinzenta. Aulas das 8H30 às 13H30 é, claramente, o único horário escolar capaz de rentabilizar os saberes e de combater o insucesso escolar, porque não só dá tempo a todos de assimilar as matérias leccionadas, sem se dispersarem por uma infinidade de disciplinas absolutamente inúteis e desgastantes, como também permite manter um ritmo mais intenso de aprendizagem. Com efeito, a tarde livre permite, aos bons alunos, progredir ainda mais, desbravar novos caminhos, sem estar vinculado ao ritmo da sala de aula; e, aos menos bons, dá-lhes tempo para recuperar e assimilar as matérias dadas.
Se, nas nossas escolas (irracionais) públicas, os horários dos nossos alunos fossem idênticos, seria lógico que a escola se organizasse por forma a oferecer aos seus alunos, da parte da tarde, toda uma série de actividades extra-curriculares: umas, destinadas aos alunos com mais dificuldades, no sentido de os recuperar e de lhes dar apoio (salas de estudo, aulas de apoio, centros de explicação, etc.); outras, de carácter formativo e educativo, dirigidas a toda a comunidade educativa (cursos de aperfeiçoamento de línguas, grupos de teatro, de poesia, musicais, experimentais, a rádio-escola, o jornal, o desporto escolar, etc.).
Acontece que isto é absolutamente impossível de implementar na escola (irracional) pública onde os alunos entram às 8H30 e saem às 17H30, com horários com mais de 40 horas de aulas.
Aulas de apoio? Salas de estudo? Centros de explicação? Com que alunos e a que horas?
Há pessoas que ainda não perceberam que tanto se morre de fome como de fartura. E que é tão estúpido obrigar uma pessoa a comer até vomitar como obrigar um aluno a continuar a digerir matérias depois de ter papado 8 horas seguidas de aulas (É óbvio que há alunos verdadeiramente extraordinários e com uma resistência a toda a prova que aguentam cargas elevadíssimas. Só que a escolaridade obrigatória impõe uma escola para todos e não apenas para uma elite de super-homens).
Na situação actual (alunos com mais de 40 horas lectivas por semana), um furo no seu horário, desde que seja episódico, é uma benção dos céus. Hoje, uma das principais causas do insucesso escolar é precisamente a sobrecarga lectiva dos horários dos alunos. É, aliás, por essa razão que as aulas de apoio educativo aos alunos com mais dificuldades se têm revelado completamente inúteis. Com efeito, alunos com 40 horas lectivas por semana não têm tempo, nem disposição mental, para mais nada.
Ora, o facto de os alunos passarem agora a ser obrigados a permanecer enclausurados dentro de uma sala de aula, sem que exista qualquer motivo justificativo para tal, vai ser mais um factor a potenciar a sua indisciplina e rebeldia. Necessariamente.
Nunca como hoje a célebre canção dos Pink Floyd foi tão actual: «Hey, teacher, leave the kids alone!». E o que é triste é que é precisamente a geração que imortalizou esta canção que agora nos governa. A tal geração rasca que concluiu os seus cursos graças às passagens administrativas do pós-25 de Abril e que, certamente, por isso não tem agora a preparação suficiente para nos governar.
(continua)
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha