segunda-feira, outubro 17, 2005
A MORTE DE GALILEU OU O ELOGIO DA ESTUPIDEZ (cont.)
A escola actual está erigida sobre uma contradição insanável: por um lado, queremos uma escola para todos, mas, por outro, agimos como se a escola fosse só para alguns. E esses alguns são precisamente os chamados alunos medianos que, representando a maioria, estão muito longe, no entanto, de representar a totalidade dos alunos.
Ora, não se pode defender a escolaridade obrigatória e depois impor um modelo de escola destinado ao aluno mediano onde os que têm menos aptidões são pura e simplesmente eliminados ou marginalizados. Com uma escola a funcionar assim desta forma é óbvio que terá de haver insucesso e abandono escolar.
Qual é a solução? É muito simples: se queremos uma escola para todos, então a escola tem de ser mesmo para todos e não apenas para alguns, mesmo que esses alguns sejam a maioria.
Antes de mais, há uma coisa que todos temos de interiorizar: nem todas as pessoas nascem com as mesmas aptidões. Há pessoas que podem treinar 24 horas por dia, durante toda a vida, sob o comando dos melhores treinadores, que nunca conseguirão atingir os mínimos olímpicos. Afirmar, como eu já vi, que o bom professor é aquele que consegue que os seus alunos obtenham 16 nos exames nacionais, é tão estúpido como afirmar que o bom treinador é aquele que consegue fazer de qualquer jogador um Eusébio. Nem se pode exigir isso de um treinador por muito bom que seja, nem de um professor. Para se ser um Eusébio, não basta ter um bom treinador, é necessário também ter aptidões para o ser. Com os alunos passa-se rigorosamente o mesmo.
Sendo certo que a nossa escola, da forma como está organizada, nem permite que os Eusébios surjam, nem que os “cepos” aprendam sequer os rudimentos do jogo. Daí que os melhores alunos saibam cada vez menos e o abandono e o insucesso escolar se mantenham elevados.
Ora, se queremos uma escola para todos (quer para os que têm muitas aptidões, quer para aqueles que não têm aptidão nenhuma), só há uma solução: procedermos à reforma do nosso sistema de ensino tendo em conta este objectivo.
Primeira medida: redução dos horários lectivos dos alunos do secundário para 20-24 horas por semana e os do básico para 28 a 30 horas.
Segunda medida: exames no final de cada ciclo que se destinariam a distribuir os alunos por três níveis de ensino diferentes consoante as suas capacidades, aptidões e conhecimentos (nível 1 - de 0 a 7 valores; nível 2 – de 8 a 13 valores; e nível 3 – de 14 a 20 valores). Sem prejuízo de, no final de cada período, o aluno poder transitar para o nível superior, sob proposta fundamentada do professor da disciplina.
Terceira medida: adequação dos programas e objectivos de cada ano a cada um dos níveis.
Quarta medida: a avaliação deveria ser rigorosa com notas de 0 a 20, a única avaliação que toda a gente sabe descodificar.
Quinta medida: a reprovação passaria a ser absolutamente excepcional, por forma a que o aluno pudesse concluir os 12 anos de escolaridade obrigatória em turmas com alunos do seu escalão etário (a diferenciação de saberes e competências faz-se através dos níveis).
Sexta medida: introdução de componente técnica profissionalizante nos dois níveis mais baixos, por forma a preparar os alunos para a vida activa (promover cursos profissionais para repetentes, como acontece hoje, é condenar ao insucesso, logo à partida, o próprio curso).
Sétima medida: a escola passaria a organizar actividades extracurriculares, quer para apoio às actividades lectivas (aulas de apoio, salas de estudo, etc.), quer de ocupação de tempos livres (clubes de línguas, de poesia, de teatro, de música, desportivos, cursos extra-curriculares, etc.). Estas actividades seriam facultativas, uma vez que os pais devem ter o direito de poder inscrever os seus filhos noutras actividades fora da escola.
Conseguiríamos, assim, uma escola para todos (e, consequentemente, uma escola com menos problemas disciplinares): para os melhores, para os medianos e também para aqueles que têm menos aptidões. Porque a escola que temos é apenas uma escola para medíocres, concebida, aliás, à imagem e semelhança dos seus defensores.
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha
Ora, não se pode defender a escolaridade obrigatória e depois impor um modelo de escola destinado ao aluno mediano onde os que têm menos aptidões são pura e simplesmente eliminados ou marginalizados. Com uma escola a funcionar assim desta forma é óbvio que terá de haver insucesso e abandono escolar.
Qual é a solução? É muito simples: se queremos uma escola para todos, então a escola tem de ser mesmo para todos e não apenas para alguns, mesmo que esses alguns sejam a maioria.
Antes de mais, há uma coisa que todos temos de interiorizar: nem todas as pessoas nascem com as mesmas aptidões. Há pessoas que podem treinar 24 horas por dia, durante toda a vida, sob o comando dos melhores treinadores, que nunca conseguirão atingir os mínimos olímpicos. Afirmar, como eu já vi, que o bom professor é aquele que consegue que os seus alunos obtenham 16 nos exames nacionais, é tão estúpido como afirmar que o bom treinador é aquele que consegue fazer de qualquer jogador um Eusébio. Nem se pode exigir isso de um treinador por muito bom que seja, nem de um professor. Para se ser um Eusébio, não basta ter um bom treinador, é necessário também ter aptidões para o ser. Com os alunos passa-se rigorosamente o mesmo.
Sendo certo que a nossa escola, da forma como está organizada, nem permite que os Eusébios surjam, nem que os “cepos” aprendam sequer os rudimentos do jogo. Daí que os melhores alunos saibam cada vez menos e o abandono e o insucesso escolar se mantenham elevados.
Ora, se queremos uma escola para todos (quer para os que têm muitas aptidões, quer para aqueles que não têm aptidão nenhuma), só há uma solução: procedermos à reforma do nosso sistema de ensino tendo em conta este objectivo.
Primeira medida: redução dos horários lectivos dos alunos do secundário para 20-24 horas por semana e os do básico para 28 a 30 horas.
Segunda medida: exames no final de cada ciclo que se destinariam a distribuir os alunos por três níveis de ensino diferentes consoante as suas capacidades, aptidões e conhecimentos (nível 1 - de 0 a 7 valores; nível 2 – de 8 a 13 valores; e nível 3 – de 14 a 20 valores). Sem prejuízo de, no final de cada período, o aluno poder transitar para o nível superior, sob proposta fundamentada do professor da disciplina.
Terceira medida: adequação dos programas e objectivos de cada ano a cada um dos níveis.
Quarta medida: a avaliação deveria ser rigorosa com notas de 0 a 20, a única avaliação que toda a gente sabe descodificar.
Quinta medida: a reprovação passaria a ser absolutamente excepcional, por forma a que o aluno pudesse concluir os 12 anos de escolaridade obrigatória em turmas com alunos do seu escalão etário (a diferenciação de saberes e competências faz-se através dos níveis).
Sexta medida: introdução de componente técnica profissionalizante nos dois níveis mais baixos, por forma a preparar os alunos para a vida activa (promover cursos profissionais para repetentes, como acontece hoje, é condenar ao insucesso, logo à partida, o próprio curso).
Sétima medida: a escola passaria a organizar actividades extracurriculares, quer para apoio às actividades lectivas (aulas de apoio, salas de estudo, etc.), quer de ocupação de tempos livres (clubes de línguas, de poesia, de teatro, de música, desportivos, cursos extra-curriculares, etc.). Estas actividades seriam facultativas, uma vez que os pais devem ter o direito de poder inscrever os seus filhos noutras actividades fora da escola.
Conseguiríamos, assim, uma escola para todos (e, consequentemente, uma escola com menos problemas disciplinares): para os melhores, para os medianos e também para aqueles que têm menos aptidões. Porque a escola que temos é apenas uma escola para medíocres, concebida, aliás, à imagem e semelhança dos seus defensores.
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha