quarta-feira, novembro 30, 2005
OS AFILHADOS DE SCOLARI
Como português, não posso deixar de ficar profundamente indignado pelo facto de o actual presidente da Federação Portuguesa de Futebol consentir que Scolari reduza a selecção nacional ao grupo dos seus afilhados. A selecção nacional, como o próprio nome sugere, devia ser formada pelos melhores jogadores portugueses à data da convocatória. Só assim faz sentido chamar-lhe selecção nacional. É certo que o critério das escolhas é necessariamente subjectivo pelo que haverá sempre, seja qual for o seleccionador, alguma discussão em relação à justeza da convocatória. Mas uma coisa é aquela dose de subjectividade que acompanha necessariamente qualquer escolha, outra coisa completamente diferente é a escolha carecer daquele mínimo de objectividade e razoabilidade que devem presidir a todas as decisões de uma pessoa competente e sensata. Ora, o que se passa com as convocatórias da selecção nacional é ofensivo do mais elementar sentido de justiça e de bom senso.
Por outro lado, como sportinguista, não posso também deixar de ficar profundamente revoltado ao assistir à destruição psicológica do guarda-redes Ricardo às mãos de Scolari. Com efeito, a forma como Scolari se está a servir de Ricardo para chatear Pinto da Costa é totalmente inadmissível. Se Scolari não gosta de Pinto da Costa e do FC Porto é um problema dele e que deverá resolver no local próprio: no psiquiatra ou na vidente. Agora não pode é servir-se da selecção e dos jogadores para os seus ajustes de contas e para as suas vinganças pessoais, como salta aos olhos de toda a gente.
Não há nada mais destrutivo do carácter e do ego de uma pessoa do que ter a consciência de que se ocupa determinado lugar por favor e não por mérito. E a prova disso mesmo é que Ricardo nunca mais foi o guarda-redes que era desde que Scolari lhe entregou a baliza de mão beijada, afastando das convocatórias, por birra ou capricho, o seu principal concorrente. Ricardo tem qualidades para ser guarda-redes da selecção nacional, mas só devia ser convocado, tal como qualquer outro jogador, quando estivesse em forma. Se assim fosse, Ricardo sentir-se-ia honrado e premiado com a convocatória. Mas como a sua convocatória é automática, independentemente do seu momento de forma, só se pode sentir profundamente humilhado e envergonhado, acabando por transportar para o próprio jogo o desconforto da situação e, inclusive, reconhecendo interiormente quão merecidos são os assobios com que o brindam sempre que entra em campo. Além disso, Ricardo sabe, tão bem como qualquer um de nós, que ninguém gosta de afilhados.
Mas se o caso de Ricardo é o mais flagrante, não é o único. Na verdade, salta à vista de toda a gente que jogadores como Maniche, Costinha, Nuno Valente, Hugo Viana, Miguel, Frechaut, Jorge Ribeiro, Hélder Postiga, etc. etc., não justificam, neste momento, minimamente a sua chamada à selecção nacional. Uns andam a levar cabazadas, todos os fins-de-semana, de equipas russas de que nunca ninguém ainda ouviu falar; outros nem conseguem aquecer o banco de suplentes do seu actual clube. Ora, isto é manifestamente pouco para se merecer envergar a camisola da selecção.
Mas esta cegueira (ou será mesmo incompetência?) de Scolari, infelizmente, não é só de agora. Como explicar que Scolari tivesse andado dois anos a preparar o Europeu e tivesse iniciado esse campeonato com Deco, Ricardo Carvalho, Maniche e Costinha afastados da equipa principal quando mesmo qualquer pessoa que não percebesse nada de futebol não poderia deixar de ver que eram os melhores naquela altura? Aliás, a conquista de dois campeonatos nacionais, da Taça UEFA e da Taça dos Campeões eram a prova disso mesmo. Foi preciso perder com a Grécia para Scolari ver aquilo que toda a gente não podia deixar de ver.
Agora, das duas uma: ou Scolari consegue convocar os melhores jogadores portugueses, independentemente das simpatias que tenha pelos dirigentes do clube a que pertençam ou, então, o melhor é deixar de chamar selecção nacional à sua selecção.
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha
Por outro lado, como sportinguista, não posso também deixar de ficar profundamente revoltado ao assistir à destruição psicológica do guarda-redes Ricardo às mãos de Scolari. Com efeito, a forma como Scolari se está a servir de Ricardo para chatear Pinto da Costa é totalmente inadmissível. Se Scolari não gosta de Pinto da Costa e do FC Porto é um problema dele e que deverá resolver no local próprio: no psiquiatra ou na vidente. Agora não pode é servir-se da selecção e dos jogadores para os seus ajustes de contas e para as suas vinganças pessoais, como salta aos olhos de toda a gente.
Não há nada mais destrutivo do carácter e do ego de uma pessoa do que ter a consciência de que se ocupa determinado lugar por favor e não por mérito. E a prova disso mesmo é que Ricardo nunca mais foi o guarda-redes que era desde que Scolari lhe entregou a baliza de mão beijada, afastando das convocatórias, por birra ou capricho, o seu principal concorrente. Ricardo tem qualidades para ser guarda-redes da selecção nacional, mas só devia ser convocado, tal como qualquer outro jogador, quando estivesse em forma. Se assim fosse, Ricardo sentir-se-ia honrado e premiado com a convocatória. Mas como a sua convocatória é automática, independentemente do seu momento de forma, só se pode sentir profundamente humilhado e envergonhado, acabando por transportar para o próprio jogo o desconforto da situação e, inclusive, reconhecendo interiormente quão merecidos são os assobios com que o brindam sempre que entra em campo. Além disso, Ricardo sabe, tão bem como qualquer um de nós, que ninguém gosta de afilhados.
Mas se o caso de Ricardo é o mais flagrante, não é o único. Na verdade, salta à vista de toda a gente que jogadores como Maniche, Costinha, Nuno Valente, Hugo Viana, Miguel, Frechaut, Jorge Ribeiro, Hélder Postiga, etc. etc., não justificam, neste momento, minimamente a sua chamada à selecção nacional. Uns andam a levar cabazadas, todos os fins-de-semana, de equipas russas de que nunca ninguém ainda ouviu falar; outros nem conseguem aquecer o banco de suplentes do seu actual clube. Ora, isto é manifestamente pouco para se merecer envergar a camisola da selecção.
Mas esta cegueira (ou será mesmo incompetência?) de Scolari, infelizmente, não é só de agora. Como explicar que Scolari tivesse andado dois anos a preparar o Europeu e tivesse iniciado esse campeonato com Deco, Ricardo Carvalho, Maniche e Costinha afastados da equipa principal quando mesmo qualquer pessoa que não percebesse nada de futebol não poderia deixar de ver que eram os melhores naquela altura? Aliás, a conquista de dois campeonatos nacionais, da Taça UEFA e da Taça dos Campeões eram a prova disso mesmo. Foi preciso perder com a Grécia para Scolari ver aquilo que toda a gente não podia deixar de ver.
Agora, das duas uma: ou Scolari consegue convocar os melhores jogadores portugueses, independentemente das simpatias que tenha pelos dirigentes do clube a que pertençam ou, então, o melhor é deixar de chamar selecção nacional à sua selecção.
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha