sábado, novembro 05, 2005

 

A PROFISSÃO MAIS ANTIGA DO MUNDO

Se toda a gente a reconhece como a profissão mais antiga do mundo, mal se percebe porque não está legalizada no nosso país. Tanto mais quando é a única profissão que, tendo evoluído muito pouco desde o tempo das cavernas até hoje, tem sempre mantido uma procura elevada. Ora, tecer considerações de ordem moral sobre uma profissão com este currículo e esta implantação cultural na história da humanidade, fazendo já parte do nosso ADN colectivo, parece-me manifestamente idiota. Contra factos não há argumentos.

A situação que se vive hoje em Portugal, neste campo, é bem reveladora da hipocrisia em que o nosso povo sempre gostou de viver. Por um lado, permite-se a prostituição; por outro, proíbe-se a existência de casas que vivam da prostituição. Ou seja, não é proibido uma mulher vender sexo à beira da estrada, onde o único cuidado de higiene é um rolo de papel higiénico e onde a mulher está sujeita a ser roubada, maltratada e violada, para além de necessitar inevitavelmente de um “chulo” protector. Mas é proibida a existência de casas de sexo licenciadas, com os impostos em dia, quartos e casas de banho desinfectados, onde as mulheres estão protegidas e são controladas, periodicamente, pelos serviços de saúde.

E não se pense que há uma terceira via, porque não há. A escolha é apenas entre uma situação e outra. É óbvio que uma profissão que já vem do tempo das cavernas não se acaba por decreto-lei. Aliás, mantendo esta profissão a procura que todos os dados estatísticos confirmam, tal só pode significar que se trata de uma profissão essencial para o próprio equilíbrio da comunidade humana tal como está organizada e nós a concebemos. Que ninguém duvide de que a proibição absoluta da prostituição com a perseguição e repressão efectiva de prostitutas e clientes poria em risco a paz social e seria um foco permanente de tensões. O sexo é muito mais importante do que o que as pessoas (algumas) pensam. E infelizmente há demasiada gente que não tem outra possibilidade de satisfazer os seus impulsos que não seja através do recurso a prostitutas. Ou será que haverá por aí algumas boas samaritanas disponíveis para satisfazer, gratuitamente, as taras e manias (como dizia Marco Paulo) de certos enjeitados ou tarados? Cuidado! Olhem que há por aí cada um…

Não tenho, no entanto, qualquer dúvida de que grande parte das mulheres que se dedica à prostituição, preferia ter outra profissão, desde que ganhasse o mesmo, bem entendido. Agora o que é difícil é, com as suas habilitações, arranjarem um emprego onde ganhem mais de dois mil e quinhentos euros por mês, que é o que ganha, em média, uma prostituta de 3ª classe. Porque andar a lavar o chão e as casas de banho a troco do salário mínimo nacional, isso elas não querem. E há mesmo prostitutas (as de top) que auferem muito mais de cinco mil euros por mês, chegando a cobrar 250 euros por saída e mais de 500 euros por noite. E se pedem isso aos clientes é porque há quem pague. Experimentem lá ir oferecer a uma mulher destas o emprego honrado de mulher a dias para ver se ela aceita?

Além disso, num tempo em que o sexo deixou de ser tabu, não percebo a relutância que existe em haver pessoas que cobrem alguma coisa por isso. O problema é delas, desde, evidentemente, que o façam de livre vontade. Ao Estado deve caber apenas regulamentar a actividade por forma a proteger a saúde pública e a evitar a exploração sexual e o tráfico de mulheres, assim como a fuga aos impostos de uma actividade altamente lucrativa.

Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha

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