sexta-feira, dezembro 09, 2005
O GOVERNO CRUCIFIXA-SE
Não sou católico, nem crente. No entanto, discordo em absoluto da recente decisão do Governo de mandar retirar os crucifixos de todas as escolas púbicas.
Em primeiro lugar, porque somos um país com uma população esmagadoramente cristã e maioritariamente católica. Sendo certo que o cristianismo faz parte da nossa herança e identidade cultural. Que não se mandem colocar crucifixos nas escolas ainda achava compreensível, mas que se mandem retirar os que existem, acho inadmissível. Por algum motivo, o nosso país, por exemplo, celebra o Natal e não o Ramadão: o primeiro-ministro fala ao país no dia de Natal, as câmaras municipais colocam nas ruas as iluminações alusivas à quadra durante quase dois meses, os dias festivos cristãos são feriados, etc. Ou será, que o Governo também pretende acabar com estes feriados e estes rituais do Estado?
Em segundo lugar, porque o respeito por todas as religiões não está dependente da negação da nossa identidade cultural. Pelo contrário, ninguém pode respeitar quem quer que seja se se negar a si próprio. É, também, por esta razão, que sou contra à proibição do uso de símbolos religiosos pelos alunos, imposta pelo Governo francês. Aliás, se o nosso Governo fosse inteligente, nunca devia adoptar qualquer medida que tivesse sido adoptada pelos franceses, uma vez que se trata de um povo que não tem a mínima sensibilidade para lidar com este assunto (como, de resto, os factos aí estão à vista de todos). Aliás, a única coisa que aumenta com a ausência de identidade ou de valores é a irracionalidade.
Alguém estranha que, num país islâmico ou budista, os símbolos destas religiões tenham visibilidade nas instituições públicas? Isto nada tem a ver com o tão propalado respeito pelas minorias. Se assim fosse, a bandeira portuguesa também não devia estar hasteada nas repartições públicas, tendo em conta que muitas pessoas que aqui vivem não são portuguesas e a nossa bandeira pode ofendê-las (na medida até em que ostenta símbolos colonialistas – a esfera armilar - e religiosos – as cinco quinas em forma de cruz -), nem o retrato do Presidente da República devia estar afixado por aí, tendo em conta que a sua exposição pública ofende certamente todos aqueles que não votaram nele, nem se revêm na sua magistratura, como é o meu caso.
Em terceiro lugar, pela razão mais óbvia de todas: não se devem fazer queimadas em plena época de incêndios. Ora, atravessando nós um período com fogos a lavrarem por tudo quanto é sítio, desde a Justiça à Educação, passando pela Administração Pública, Autarquias, etc., parecia do mais elementar bom senso que o Governo não fosse abrir mais uma frente, ferindo a susceptibilidade da esmagadora maioria do nosso povo com uma questão menor e que, no fundo, não tem qualquer relevância, a não ser a estupidez do próprio gesto.
Esta medida vem, aliás, na mesma linha de outras de cariz idêntico, designadamente, a redução das férias judiciais (na Justiça) e a gestão da componente não lectiva (na Educação). Com efeito, em duas áreas absolutamente carentes de reformas e em que era necessário contar, inevitavelmente, com a colaboração dos magistrados, advogados, funcionários judiciais e professores, o Governo conseguiu, com estas duas medidas absolutamente estúpidas, na medida em que não resolvem minimamente qualquer dos graves problemas que afectam os dois sectores, hostilizar e ofender todas as classes profissionais com as quais tem de contar forçosamente se quiser levar a cabo qualquer reforma com sucesso nestas duas áreas.
Ou será que o Governo pensa que as reformas se esgotam no acto legislativo? Mais importante do que as leis que se executam são os homens que executam as leis. Só que, infelizmente, nesta sua cegueira exibicionista de agradar aos colunistas do Expresso e do Público, o Governo, em vez de combater os incêndios, prefere andar a fazer queimadas, para mais numa época propícia a fogos.
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha
Em primeiro lugar, porque somos um país com uma população esmagadoramente cristã e maioritariamente católica. Sendo certo que o cristianismo faz parte da nossa herança e identidade cultural. Que não se mandem colocar crucifixos nas escolas ainda achava compreensível, mas que se mandem retirar os que existem, acho inadmissível. Por algum motivo, o nosso país, por exemplo, celebra o Natal e não o Ramadão: o primeiro-ministro fala ao país no dia de Natal, as câmaras municipais colocam nas ruas as iluminações alusivas à quadra durante quase dois meses, os dias festivos cristãos são feriados, etc. Ou será, que o Governo também pretende acabar com estes feriados e estes rituais do Estado?
Em segundo lugar, porque o respeito por todas as religiões não está dependente da negação da nossa identidade cultural. Pelo contrário, ninguém pode respeitar quem quer que seja se se negar a si próprio. É, também, por esta razão, que sou contra à proibição do uso de símbolos religiosos pelos alunos, imposta pelo Governo francês. Aliás, se o nosso Governo fosse inteligente, nunca devia adoptar qualquer medida que tivesse sido adoptada pelos franceses, uma vez que se trata de um povo que não tem a mínima sensibilidade para lidar com este assunto (como, de resto, os factos aí estão à vista de todos). Aliás, a única coisa que aumenta com a ausência de identidade ou de valores é a irracionalidade.
Alguém estranha que, num país islâmico ou budista, os símbolos destas religiões tenham visibilidade nas instituições públicas? Isto nada tem a ver com o tão propalado respeito pelas minorias. Se assim fosse, a bandeira portuguesa também não devia estar hasteada nas repartições públicas, tendo em conta que muitas pessoas que aqui vivem não são portuguesas e a nossa bandeira pode ofendê-las (na medida até em que ostenta símbolos colonialistas – a esfera armilar - e religiosos – as cinco quinas em forma de cruz -), nem o retrato do Presidente da República devia estar afixado por aí, tendo em conta que a sua exposição pública ofende certamente todos aqueles que não votaram nele, nem se revêm na sua magistratura, como é o meu caso.
Em terceiro lugar, pela razão mais óbvia de todas: não se devem fazer queimadas em plena época de incêndios. Ora, atravessando nós um período com fogos a lavrarem por tudo quanto é sítio, desde a Justiça à Educação, passando pela Administração Pública, Autarquias, etc., parecia do mais elementar bom senso que o Governo não fosse abrir mais uma frente, ferindo a susceptibilidade da esmagadora maioria do nosso povo com uma questão menor e que, no fundo, não tem qualquer relevância, a não ser a estupidez do próprio gesto.
Esta medida vem, aliás, na mesma linha de outras de cariz idêntico, designadamente, a redução das férias judiciais (na Justiça) e a gestão da componente não lectiva (na Educação). Com efeito, em duas áreas absolutamente carentes de reformas e em que era necessário contar, inevitavelmente, com a colaboração dos magistrados, advogados, funcionários judiciais e professores, o Governo conseguiu, com estas duas medidas absolutamente estúpidas, na medida em que não resolvem minimamente qualquer dos graves problemas que afectam os dois sectores, hostilizar e ofender todas as classes profissionais com as quais tem de contar forçosamente se quiser levar a cabo qualquer reforma com sucesso nestas duas áreas.
Ou será que o Governo pensa que as reformas se esgotam no acto legislativo? Mais importante do que as leis que se executam são os homens que executam as leis. Só que, infelizmente, nesta sua cegueira exibicionista de agradar aos colunistas do Expresso e do Público, o Governo, em vez de combater os incêndios, prefere andar a fazer queimadas, para mais numa época propícia a fogos.
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha