sexta-feira, janeiro 13, 2006

 

A ESQUERDA COR-DE-ROSA

Segundo o «Expresso», há um milhão de portugueses homossexuais. Francamente, fiquei surpreendido com o número, até porque julgava que se tratava já dum grupo largamente maioritário, capaz de suplantar mesmo o dos seis milhões de benfiquistas, tendo em conta o seu peso, designadamente, na comunicação social. Afinal, parece que há mais de 90% de portugueses que são heterossexuais...

No entanto, quando se pergunta aos candidatos presidenciais, se são a favor ou contra os casamentos de homossexuais, não há um único que seja capaz de representar o sentir da maioria. Mário Soares, Louçã, Jerónimo e Alegre são a favor e Cavaco fica-se por um talvez. E isto é preocupante. Porque uma coisa é o respeito pelas minorias, outra coisa completamente diferente é não haver sequer um candidato presidencial capaz de defender os valores e a concepção do mundo da maioria.

Com efeito, ao contrário do que nos querem fazer crer, a defesa dos casamentos dos homossexuais não tem nada a ver com igualdade de direitos, mas com valores e diferentes concepções do mundo. Porque, se se tratasse apenas de uma questão de igualdade de direitos, então também se teria de legalizar o casamento polígamo, bissexual e, já agora, com o cãozinho, a ovelha ou a porca para que ninguém se sinta discriminado. Defender a liberdade sexual e que ninguém seja discriminado pelas suas preferências ou tendências sexuais não obriga, nem à destruição, nem à subversão das nossas instituições tradicionais.

A este propósito não posso deixar de transcrever a parte final do artigo intitulado «Revolução Cultural» que João Carlos Espada publicou, há dois anos, no jornal «Expresso»:

«Depois do fracasso do colectivismo em economia, um programa de revolução cultural começou a emergir nos mesmos sectores que antes apoiaram o colectivismo igualitário contra as sociedades liberais. Este programa de revolução cultural assenta num paradoxo: em nome de uma alegada liberdade sem entrave, ele procura impor à maioria das pessoas uma mundovisão cultural que é contrária ao que a maioria das pessoas espontaneamente pensa. Essa revolução cultural ataca o casamento, defende a homossexualidade, propõe a legalização das drogas e da eutanásia, e sustenta que o aborto deve ser entendido mais ou menos como a extracção de um dente.

Irving Kristol propõe um teste muito simples para saber se as pessoas comuns realmente concordam com isto: basta perguntar-lhes se é isso que ensinam aos seus filhos ou aos seus netos. Na maioria dos casos não é.

Então, se não é, como se explica que não exista na comunicação social, na “intelligentsia” e nos partidos políticos um movimento mais vocal em defesa daquilo que as pessoas ensinam aos filhos?

A resposta, explica Kristol, é que existe um clima de intimidação cultural contra tudo o que fazemos espontaneamente há muitas gerações. Todas as tradições estão sob suspeita e esse é o programa da revolução cultural».

Ora, quando até o próprio Cavaco Silva se sente inibido de responder peremptoriamente «Não» à pergunta relativa aos casamentos homossexuais, tal só pode significar que a democracia, tal como nós no ocidente a concebemos, está hoje em crise absoluta, na medida em que ninguém se sente com coragem para representar e defender o espaço cultural da maioria. Na verdade que democracia é esta onde os valores e a concepção do mundo da maioria não estão sequer representados ou não podem ser defendidos abertamente por um candidato?

Mas o que ainda se torna mais revoltante nesta ofensiva da esquerda cor-de-rosa contra a família tradicional é a campanha diária levada a cabo por todos os órgãos de comunicação social de promoção da homossexualidade, fazendo-nos crer, através de reportagens, concursos, artigos pseudo-científicos e de opinião, programas de variedades, telenovelas, etc. que o bom gosto, o requinte, a sensibilidade artística, o charme, a inteligência, a educação e a modernidade são um exclusivo dos homossexuais. E começa já a haver mesmo pessoas com vergonha de assumir a sua heterossexualidade com receio de que isso as desqualifique ou que as considerem uns burgessos.


Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha

Comments:
Discordo prontamente.


O seu "teste paradoxal" tenta que essa maioria conceba uma cultura assente em valores homossexuais. Ora, um oposto cultural abstrato não é identificável com o reconhecimento jurídico da existência de um determinado sentimento humano, de forma a poder conciliar e agregar o Estado em torno de uma "intra-cultura" alargada a todos os seus constituintes.

Sermos, facticamente(e felizmente), uma maioria de heterosexuais, não significa que passemos a nossa cultura para um plano identificado com um oposto minoritário.

Não é impôr, nem transmiir, esta cultura "gay" que se trata.

Essa lógica da revolução cultural, "a cultura abstracta do oposto", assenta, apenas, numa falaciosa premissa de contraposição entre o que se identifica, se vê em concreto, em sociedade, mas de forma particular e bastante minimizada; e o que nos levam a querer que se está a impôr culturalmente (a acrescentar a sua relatividade).

Ora, não se está a impor nada. O social permanece. A nossa cultura permanece transmitida porque somos e tudo indica que continuemos uma maioria.

O unico paradoxo é o sr dr. discirnir o todo social como sendo homofóbico.

À priori, pergunto-lhe se em 1787, os brilhantes cérebros constituintes dos EUA, não criaram eles proprios o verdadeiro sentido do paradoxo; quando, reconhecendo como ideal primero a igualdade perante a lei, só muito mais tarde aboliram a escravatura. Servindo de alicerce a política do "igual, mas separado"?

Uma coisa é existir uma maioria indiscutível de heterosexuais, que se impõem culturalmente no nosso complexo social diário.

Outra coisa, o seu disparate, é pensar que a maioria tem o direito de reprovar o sentimento de outrém, considerando-o um comportamento desviante. No seu e no meu ponto de vista cultural claro que é desviante, mas para o plural ele existe quer goste-mos ou não. Não é sustentável impedir uma minoria de ser reconhecida pela ordem juridica e, como tal, legitimada e regulamentadas de forma igualitária perante lei.
A sua invalidez torna-se inutil perante um dado social.
E histórico, acrecente-se.
E cada ves mais reconhecido cientificamente, conclua-se.




Pergunto-lhe, agora, se essa "esquerda cor-de-rosa", benfiquista, socialista (deduzo eu), não será afinal uma esquerda da pluralidade?

Permita-me perguntar-lhe, então, se concorda que ao não adoptarmos casamentos (civis, recorde-se) iguais entre todos, independentemente da sua orientação sexual, não estaremos a cometer uma acto INCONSTITUCIONAL?

O Senhor Santa Maia certamente saberá que estes senhores se candidatam a Presidentes da Republica. Juram "cumprir e fazer cumprir a Constituição". A constituição é para ser analisada de cima. É claro que cavaco hesita porque uma parte da direita que ele representa, uma direita retrógada e minoritária, que nada se identifica com a social-democracia, está em confronto com sentido dado pelo povo, valorativamente, a cada homosexual. E não é, nem deve ser, nem é isso que se pede transmitir de geração em geração, de que é um mal, um sentimento recorrente duma minoria indigna.

Saberá o que é falar em abstracto.

Então em abstracto um estado de anarquia devidamente regulamentada e estruturada socialmente pelas nossas mentes não seria preferivel a essa revolução cultural?
É que entre o natural e o anti-natural que a sua revolução levam a crer, prefiro o perfeito.

Em abstracto posso conceber muitos modelos sociais.

Mas em concreto prefiro um estado pluralista.
 
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