quinta-feira, abril 06, 2006

 

2 + 2 = 4

«Mais horas na escola e piores resultados» era o título da notícia do Expresso da passada semana em que a jornalista Mónica Contreras apresentava um estudo comparativo da escola portuguesa e finlandesa. E no sub-título interrogava-se: «o que torna as escolas portuguesas piores que as finlandesas, se passamos mais tempo nas aulas?».

Ninguém adivinha? Eu vou dar uma ajuda. Mas vamos ter de sair da pasta da Educação, uma vez que se trata de uma área completamente avessa ao raciocínio lógico.

Por que razão, quando se quer aumentar a intensidade do treino, tem de se diminuir o volume? Por que razão, para a forma desportiva, o tempo de descanso é tão (ou mesmo mais) importante que o tempo de treino? E por que razão a motivação psicológica de um atleta é mais importante do que a preparação física na obtenção dos bons resultados?

Se o leitor e a senhora ministra conseguirem responder a estas questões, facilmente perceberão também por que razão os alunos portugueses obtêm piores resultados do que os finlandeses, se passam mais tempo na escola e têm mais disciplinas. E ficariam também a compreender, por que razão, no actual contexto do nosso ensino básico e secundário, as aulas de substituição são contraproducentes e por que razão não é denegrindo publicamente a imagem dos professores que se conseguem melhores resultados e melhores professores.

É claro, senhora ministra, que uma das principais razões por que os alunos portugueses têm piores resultados do que os finlandeses é precisamente porque passam mais tempo na escola. Logo, forçoso será concluir que, se queremos melhores resultados escolares, temos necessariamente de reduzir a carga horária dos alunos e diminuir substancialmente o número de disciplinas.

E o que é que a senhora ministra fez? Fez precisamente o contrário. Ou seja, aumentou o número de disciplinas e o número de horas que os alunos passam na escola. Acha isso inteligente, senhora ministra? Responda lá com franqueza.

Mas não pense, senhora ministra, que o problema se resolve apenas com a redução da carga lectiva e do número de disciplinas. A senhora ministra, por acaso, pratica desporto? Se praticasse seria mais fácil compreender as razões do insucesso e do abandono escolar e adoptar as medidas adequadas a combatê-los.

Não, senhora ministra, não é obrigando os professores a passar administrativamente os alunos que se resolve o problema. Isso era no tempo em que era aluna universitária e já deve ter constatado, por experiência própria, que não é uma boa solução. Na verdade, não é pelo simples facto de se comprar um cinturão negro numa loja da especialidade que se faz de um indivíduo um mestre de judo.

Mas eu vou dar-lhe o meu exemplo. Pertenço a um grupo heterogénio de pessoas que jogam futebol de salão todas as semanas. Heterogénio, relativamente às idades (desde os 20 aos 60 anos) e às profissões, mas bastante homogénio quanto ao nível. Ou seja, jogamos todos mais ou menos o mesmo. E porque somos todos mais ou menos do mesmo nível, todos nos empenhamos ao máximo e os nossos jogos são sempre extremamente disputados. Agora imagine, senhora ministra, que me punham a jogar todas as semanas com os jogadores do Barcelona? Como é que eu me iria sentir ao passar um jogo inteiro sem tocar na bola, a ver os outros jogar, sentindo-me absolutamente ridículo perante a qualidade exibida pelos meus companheiros? É óbvio que nem eu queria ali continuar, nem o treinador tinha sequer tempo para mim. O mesmo sucederia ao Ronaldinho Gaúcho se viesse jogar para a minha equipa de futebol de salão.

No entanto, a senhora ministra continua a misturar, nas mesmas turmas, jogadores do meu nível com Ronaldinhos Gaúchos. E depois quer milagres...

Sabe, senhora ministra, o mal do nosso ensino não está na pouca queda para a matemática dos nossos alunos, mas no facto de os sucessivos titulares da pasta da Educação e seus secretários de Estado não conseguirem somar dois e dois. Porque, se o conseguissem, já há muito que o insucesso e o abandono escolar teriam deixado de ser a vergonha que são.

Quer um conselho, senhora ministra? Passe menos tempo no ministério, porque, como dizia Hipócrates, aquele que só sabe de medicina, nem mesmo de medicina sabe.

Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha

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