sexta-feira, abril 28, 2006
DIFAMANTE!
«É difamante!» foi a expressão utilizada por Paula Teixeira da Cruz quando instada a pronunciar-se sobre a recente lei aprovada pelo Partido Socialista que obriga a que, nas listas eleitorais, um terço dos lugares sejam preenchidos por mulheres. É compreensível a sua indignação que, estou convencido, é partilhada por todas as mulheres que acreditam nas suas capacidades para conquistar os cargos e lugares, sem necessidade de favores ou de mãozinhas masculinas a empurrá-las e a ampará-las.
As mulheres, nos últimos anos e como consequência natural da sua capacidade de trabalho, do seu brio pessoal e do seu mérito profissional, têm vindo a afirmar-se na sociedade portuguesa, ocupando cada vez mais lugares anteriormente preenchidos quase exclusivamente por homens.
Na magistratura, por exemplo, as mulheres são já maioritárias nos tribunais de primeira instância, quando é certo que, há 30 anos, esta era uma profissão obrigatoriamente masculina. Esta é, aliás, a principal razão por que só ainda existe uma mulher juiz conselheira no Supremo Tribunal de Justiça.
Mas não vale a pena os socialistas preocuparem-se agora com isso, porque, com quotas ou sem quotas, as mulheres acabarão, natural e inevitavelmente, por vir a ter um peso cada vez maior no Supremo Tribunal de Justiça, como já têm nos outros tribunais.
A imposição de quotas, no preciso momento em que as mulheres, por mérito próprio e sem qualquer ajuda, invadem e tomam de assalto todas as capelinhas anteriormente reservadas ao homens, é, apenas, uma manifestação encapotada de um machismo que, na hora da derrota, pretende amesquinhar essa conquista, como se as mulheres fossem incapazes de conquistar por mérito os seus lugares.
No concurso de há dois anos para o Supremo Tribunal de Justiça, concorrerem 73 homens e 2 mulheres. Uma das mulheres (de que eu tenho a honra de ser filho) foi graduada em primeiro lugar, tornando-se, assim, a primeira mulher juiz conselheira da história do Supremo Tribunal de Justiça. Agora imagine-se que os socialistas impunham também quotas de mulheres para o Supremo Tribunal de Justiça. Como se sentiria a minha mãe se entrasse através das quotas? Como poderia um mulher encarar os outros juizes conselheiros, sabendo que os homens tinham entrado por mérito e as mulheres por favor?
Mas eu compreendo perfeitamente esta decisão marialva e paternalista do Partido Socialista. Apercebendo-se do peso e do poder que as mulheres estão a ganhar na sociedade portuguesa, pretende, por antecipação, colher os louros de uma situação de facto para a qual em nada contribuiu. Porque, com quotas ou sem quotas, quer o PS queira ou não queira, as mulheres irão, dentro de poucos anos, reduzir os homens à sua verdadeira expressão.
Só que, para a dignidade de uma mulher, esta lei socialista é extremamente humilhante e difamante, porque transmite a ideia de que as mulheres, sem as quotas socialistas, seriam incapazes de competir em pé de igualdade com os homens, o que é completamente falso.
Há mesmo quem veja, no número extremamente reduzido de mulheres no Governo de José Sócrates, a melhor demonstração da pouca conta em que os socialistas têm as mulheres. Eu não partilho, no entanto, desta opinião. Pelo contrário, a fraca participação feminina neste Governo (apenas duas ministras) é, antes, um indício seguro da inteligência das mulheres.
Tenho, no entanto, a esperança de que esta lei, ao ferir as mulheres na sua dignidade, amesquinhando-as, possa vir a revelar-se extremamente benéfica para a sociedade portuguesa. Basta tão-só as mulheres responderem à afronta com a intuição que, em regra, as caracteriza.
Imaginem que as mulheres, feridas no seu amor próprio, decidem responder desta forma aos convites (em regra, masculinos) para integrar uma determinada lista eleitoral: «só aceito integrar a lista se for em primeiro lugar ou se a lista for composta integralmente por mulheres». Se as mulheres tiverem a coragem e a sabedoria de tomar esta posição, os partidos não vão ter alternativa: ou aceitam ou, então, pura e simplesmente, não vão poder concorrer.
E seria absolutamente divertido se a maior parte dos partidos não conseguisse apresentar listas eleitorais por não encontrar, em número suficiente, mulheres dispostas a fazer o papel de jarras de flores nas suas listas eleitorais. Em cada três candidatos, um tem de ser mulher, não é? Cuidado, que as mulheres podem não gostar da companhia...
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha
As mulheres, nos últimos anos e como consequência natural da sua capacidade de trabalho, do seu brio pessoal e do seu mérito profissional, têm vindo a afirmar-se na sociedade portuguesa, ocupando cada vez mais lugares anteriormente preenchidos quase exclusivamente por homens.
Na magistratura, por exemplo, as mulheres são já maioritárias nos tribunais de primeira instância, quando é certo que, há 30 anos, esta era uma profissão obrigatoriamente masculina. Esta é, aliás, a principal razão por que só ainda existe uma mulher juiz conselheira no Supremo Tribunal de Justiça.
Mas não vale a pena os socialistas preocuparem-se agora com isso, porque, com quotas ou sem quotas, as mulheres acabarão, natural e inevitavelmente, por vir a ter um peso cada vez maior no Supremo Tribunal de Justiça, como já têm nos outros tribunais.
A imposição de quotas, no preciso momento em que as mulheres, por mérito próprio e sem qualquer ajuda, invadem e tomam de assalto todas as capelinhas anteriormente reservadas ao homens, é, apenas, uma manifestação encapotada de um machismo que, na hora da derrota, pretende amesquinhar essa conquista, como se as mulheres fossem incapazes de conquistar por mérito os seus lugares.
No concurso de há dois anos para o Supremo Tribunal de Justiça, concorrerem 73 homens e 2 mulheres. Uma das mulheres (de que eu tenho a honra de ser filho) foi graduada em primeiro lugar, tornando-se, assim, a primeira mulher juiz conselheira da história do Supremo Tribunal de Justiça. Agora imagine-se que os socialistas impunham também quotas de mulheres para o Supremo Tribunal de Justiça. Como se sentiria a minha mãe se entrasse através das quotas? Como poderia um mulher encarar os outros juizes conselheiros, sabendo que os homens tinham entrado por mérito e as mulheres por favor?
Mas eu compreendo perfeitamente esta decisão marialva e paternalista do Partido Socialista. Apercebendo-se do peso e do poder que as mulheres estão a ganhar na sociedade portuguesa, pretende, por antecipação, colher os louros de uma situação de facto para a qual em nada contribuiu. Porque, com quotas ou sem quotas, quer o PS queira ou não queira, as mulheres irão, dentro de poucos anos, reduzir os homens à sua verdadeira expressão.
Só que, para a dignidade de uma mulher, esta lei socialista é extremamente humilhante e difamante, porque transmite a ideia de que as mulheres, sem as quotas socialistas, seriam incapazes de competir em pé de igualdade com os homens, o que é completamente falso.
Há mesmo quem veja, no número extremamente reduzido de mulheres no Governo de José Sócrates, a melhor demonstração da pouca conta em que os socialistas têm as mulheres. Eu não partilho, no entanto, desta opinião. Pelo contrário, a fraca participação feminina neste Governo (apenas duas ministras) é, antes, um indício seguro da inteligência das mulheres.
Tenho, no entanto, a esperança de que esta lei, ao ferir as mulheres na sua dignidade, amesquinhando-as, possa vir a revelar-se extremamente benéfica para a sociedade portuguesa. Basta tão-só as mulheres responderem à afronta com a intuição que, em regra, as caracteriza.
Imaginem que as mulheres, feridas no seu amor próprio, decidem responder desta forma aos convites (em regra, masculinos) para integrar uma determinada lista eleitoral: «só aceito integrar a lista se for em primeiro lugar ou se a lista for composta integralmente por mulheres». Se as mulheres tiverem a coragem e a sabedoria de tomar esta posição, os partidos não vão ter alternativa: ou aceitam ou, então, pura e simplesmente, não vão poder concorrer.
E seria absolutamente divertido se a maior parte dos partidos não conseguisse apresentar listas eleitorais por não encontrar, em número suficiente, mulheres dispostas a fazer o papel de jarras de flores nas suas listas eleitorais. Em cada três candidatos, um tem de ser mulher, não é? Cuidado, que as mulheres podem não gostar da companhia...
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha