domingo, maio 14, 2006

 

DE PÉS PARA A COVA

Como não me tenho cansado de repetir, ao longo do último ano, e, infelizmente, os recentes relatórios da OCDE, do Banco Portugal e do FMI confirmaram, este Governo não só ainda não levou a cabo qualquer reforma digna desse nome como inclusive não conseguiu sequer travar o crescimento da despesa pública que consumiu totalmente o aumento de receitas proveniente do drástico apertar do cinto aos portugueses que, praticamente, ficaram sem cintura.

É certo que, quando Sócrates chegou a primeiro-ministro, Portugal já estava gravemente doente. Só que ainda estava animicamente em condições de ser operado. E este é que é o problema com que agora nos defrontamos. Após um ano de Governo em que este se limitou a desgastar psicologicamente o doente, num exercício de sadismo difícil de compreender, Portugal encontra-se num tal estado de debilidade física e anímica que tenho sérias dúvidas se resistirá à operação a que inevitavelmente vai ter de ser sujeito.

Francamente, nunca conheci um Governo tão pouco inteligente como este. Mas, infelizmente, neste país, a estupidez, regra geral, tem o condão de atrair a simpatia do povo, dos jornalistas e dos comentadores.

Portugal só conseguirá sair do buraco em que os sucessivos Governos o colocaram se conseguir matar dois coelhos de uma cajadada: por um lado, reduzir drasticamente a despesas pública; por outro, levar a cabo reformas em sectores essenciais, designadamente, na Administração Pública, Educação, Saúde e Justiça. Isto não é, obviamente, novidade nenhuma. Aliás, toda a gente sabe isso e toda a gente o repete.

Agora o que ninguém tem a coragem de dizer é que, para que isso suceda, só existe uma única saída: o despedimento dos funcionários públicos que foram contratados por razões políticas e não por necessidades do serviço. Não há outra alternativa. Ou o Governo tem a coragem de fazer isso, reduzindo dessa forma a despesa pública e, consequentemente, permitindo o crescimento económico, através da redução da carga fiscal que está a asfixiar completamente o tecido empresarial português, ou a economia nacional entra em colapso e, consequentemente, as condições de vida dos portugueses vão continuar a degradar-se e o desemprego vai disparar, em todos os sectores, público e privado, numa viagem sem regresso.

Acresce que, se o Governo tiver a coragem de levar a cabo as reformas essenciais na Educação, Administração Pública, Justiça e Saúde, etc., a despesa pública reduzir-se-á automaticamente para valores perfeitamente aceitáveis, uma vez que grande parte da ineficiência destes sectores, como é o caso da Educação e da Administração Pública, resulta precisamente, por um lado, do excesso de pessoal que se acotovela nas Repartições inventando trabalho e, por outro, da multiplicação das disciplinas nas escolas que impede totalmente os alunos de aprender alguma coisa.

Agora, para que as reformas tenham aceitação, era importante que o Governo começasse pelas que dizem respeito à política. Até para dar o exemplo.

Assim e em primeiro lugar, devia começar pela redução do número de deputados para metade. Aliás, se substituíssem 2/3 dos deputados por bonecos que se levantassem quando os lideres das respectivas bancadas carregassem no botão, o país só ganhava com isso: era mais barato, faziam o mesmo papel e ainda tinham a vantagem de não faltar às votações.

Em segundo lugar, devia proceder à extinção de todas as câmaras com menos de 20 mil eleitores e das juntas de freguesia com menos de 1.000 eleitores.

Em terceiro lugar, devia cortar 40% dos orçamentos das autarquias. E ainda sobrava muito dinheiro para esbanjar. Desafio o leitor a fazer este trabalho: agarre na conta de gerência de uma câmara e num lápis vermelho; depois, comece a cortar tudo o que acha desperdício e veja o que sobra. É uma vergonha a forma como é gasto o nosso dinheiro: festas, subsídios de carácter puramente político-partidário, almoços e jantares, viagens ao estrangeiro, obras absolutamente estapafúrdias, megalómanas e caríssimas, trabalhos a mais que duplicam e triplicam o valor das obras, etc..

Se o Governo tivesse coragem de tomar estas medidas, os portugueses, em geral, sofreriam menos, o Estado tornar-se-ia mais magro, mais ágil e mais eficiente e a economia real tinha, então, condições para crescer e criar riqueza, acabando por absorver grande parte do desemprego criado. Mas isso é pedir de mais a um Governo com mais vocação para coveiro do que para médico. Por isso, se sentirem uns pazadas de terra a cair-vos em cima, não estranhem: é o Governo a trabalhar.


Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha

Comments:
O NACIONALISMO DO PPD/PSD E AS MATERNIDADES

Independentemente da posição que se possa ter sobre as questão das maternidades, é cada vez mais evidente que o PSD optou por conseguir alguns votos apoiando a manutenção das maternidades onde julga que a mobilização das populações é maior. E se para manter a maternidade de Barcelos o argumento é o do diálogo, na defesa da maternidade de Elvas o problema é o nacionalismo.

Para o PSD é melhor um nado-morto luso do que um português nascido em Badajoz, como se fosse um acto médico, neste caso um parto, a assegurar a pureza genética da Nação. Fernando Negrão e Marques Mendes (que não tem a coragem de dar a cara neste assunto, optando por mandar segundas figuras defender os seus argumentos) deveria percorrer a fronteira, desde Vila Real de Santo António a Caminha, e perguntar aos que aí vivem se preferem um parto num bom hospital espanhol ou sujeitar-se às condições de algumas das nossas maternidades.

Para o PSD pode-se ir para uma guerra porque o Aznar também foi ou investir no TGV assinando por baixo do projecto concebido pelo governo espanhol, mas ir parir ao outro lado da fronteira, mesmo que isso seja uma escolha da parturiente, isso é que não. É evidente que no PSD o nacionalismo em relação a Espanha só se manifesta quando não está no poder e em Espanha o governo não é do PP, como agora sucede.

Este é o mesmo PSD que quase fechou o ensino da medicina em Portugal com as consequências que hoje estão à vista, centenas de jovens vão estudar medicina nas universidades espanholas e são muitas unidades de saúde que tentam preencher os seus quadros contratando profissionais espanhóis. Mas aí o problema do nacionalismo não se coloca para o PSD, da mesma forma que não se colocou quando o 'Conde' ficou dono de um dos maiores bancos portugueses debaixo das suas barbas.

Como os idiotas a dominar a política portuguesa o problema não está em ir parir a Espanha, está na possibilidade de os que lá nascem em vez de começarem a berrar quando levam a palmada no rabo, desatarem logo a falar espanhol e a pedir à mãe que os registe em Badajoz.
 
Enviar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?