segunda-feira, junho 12, 2006

 

OS BONS E OS MAUS PROFESSORES

Foi com alguma surpresa que li o editorial de José Manuel Fernandes no jornal «Público» do passado domingo em que manifestava todo o seu entusiasmo pela recente proposta do Ministério da Educação sobre a avaliação dos professores. Em primeiro lugar, o simples facto de, nos últimos trinta anos, todas as reformas levadas a cabo pelo Ministério da Educação terem redundado num autêntico fracasso (quase sempre na razão inversa do melhoramento que prometiam), deveria ser suficiente para que qualquer pessoa sensata tivesse alguma reserva em relação a qualquer proposta deste Ministério. Em segundo lugar, bastava conhecer o pensamento sobre a Educação do senhor secretário de Estado Dr. Valter Lemos para ficar, desde logo, altamente apreensivo sobre a viabilidade de qualquer boa ideia poder sair daquele Ministério. Finalmente, bastaria ao senhor director fazer uma pequena reflexão sobre os seus argumentos para verificar que eles apontavam precisamente no sentido contrário ao da medida proposta.

Diz o senhor director que todos nós «tivemos professores que nos marcaram», uns no sentido positivo, outros no sentido negativo. É uma verdade insofismável. Só que a avaliação que fazemos dos nossos professores quando temos 50 anos, não é seguramente a mesma que fizemos quando tínhamos 15 anos. Foi, por essa razão, que a geração do senhor director, quando teve a oportunidade de, após o 25 de Abril, avaliar os seus professores, saneou os bons (que agora são recordados com tanto carinho) e promoveu a sua substituição por professores medíocres e sem quaisquer habilitações.

Por outro lado, a avaliação que um bom aluno faz do professor não é a mesma que faz um aluno médio ou um mau aluno, sendo certo que, à excepção dos bons (a minoria), todos os outros, regra geral, se acham injustiçados e perseguidos. E para os pais, esta situação ainda é mais empolada na medida em que, por um lado, são incapazes de reconhecer as limitações e as insuficiências dos seus filhos e, por outro, querem garantir-lhes a todo o custo boas classificações, mesmo que não sejam merecidas, porque têm a consciência de que disso vai depender a sua vida.

É também verdade que a esmagadora maioria dos pais não tem conhecimentos para avaliar os professores. Mas o grande obstáculo a que essa avaliação possa ser credível, não é tanto a falta de conhecimentos dos pais, mas o simples facto de serem pais, o que lhes tolda completamente o espírito quando se trata de proceder à avaliação do seu filho. E avaliar o professor do filho é, no fundo, avaliar o próprio filho.

A melhor prova disso são os pais-professores que, apesar de serem professores, são totalmente incapazes de uma análise objectiva e fria do comportamento e do aproveitamento dos seus filhos. Esta é, provavelmente, a razão por que ninguém de bom senso defende que os juizes sejam avaliados pelos pais dos arguidos ou que os polícias sejam avaliados pelos pais dos autuados. E é também este o principal motivo por que a participação dos pais na escola se tem revelado bastante nefasta. Com efeito, os pais, mesmo quando representam os pais em abstracto, apenas se preocupam com o seu filho em concreto. As suas intervenções, seja nos conselhos de turma, seja nos diferentes órgãos da escola, tem sempre como pano de fundo o seu filho e os seus problemas. E de uma forma quase doentia.

Também não é verdade que «o sistema de ensino olhe, primeiro, para os professores, depois para os interesses dos professores e depois para o bem-estar dos professores». O sistema de ensino tem olhado sempre, em primeiro lugar e exclusivamente, para os interesses dos pais, dos sindicalistas e dos políticos que têm sido sempre coincidentes: mais tempo na escola, mais disciplinas, menos desemprego, mais tachos. Os interesses dos professores, no verdadeiro sentido da palavra, nunca foram tidos em conta.

Quanto às autarquias, era bom estarmos conscientes de que existe 1 Lisboa e 319 Marcos de Canavezes. Quem vive no anonimato da capital esquece-se completamente das perseguições (no sentido literal do termo) que os munícipes que não vêm “comer à mão” dos autarcas sofrem por esse país fora.

Finalmente, termino recordando uma acção de formação em que participei e que hoje reconheço ter sido muito útil. Sobretudo naquela parte em que, para me apresentar, tive de atirar uma bola de ténis aos meus colegas. Pretendia o formador que eu utilizasse esta estratégia de apresentação com os meus alunos do 12º ano. Na altura, fiz um esforço enorme para não morrer de ridículo. Hoje, no entanto, reconheço quão benéfica foi aquela acção, na medida em que me preparou, psicologicamente, para dar cumprimento às medidas propostas pelo Ministério da Educação.



Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha

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