terça-feira, julho 11, 2006

 

O EIXO DO MAL E OS PAIS DA BELA ADORMECIDA

No programa da Sic Notícias «O Eixo do Mal», veio à baila os fracos conhecimentos dos nossos jovens. E todos eram unânimes em atribuir à escola grande parte da responsabilidade pela situação: muita indisciplina, pouca exigência, falta de autoridade do professor, etc. Mas o que os preocupava mesmo era o facto de serem estes jovens impreparados que iam governar o país amanhã.

Porque esta é uma preocupação geral, quero aproveitar, no entanto, para descansar o país. Na verdade, é impossível estes jovens fazerem uma governação pior do que aqueles que lá têm estado nos últimos anos. Por mim, até começavam era a governar já hoje. Além disso, quanto à pouca preparação que a escola lhes dá, não são propriamente as pessoas da minha geração e da geração que a antecedeu as que têm mais autoridade para falar sobre isso.

Façamos um esforço de memória. A senhora ministra da Educação, por exemplo, licenciou-se em 1978, na Faculdade de Letras de Lisboa, precisamente no ano lectivo em que eu entrei. Acontece que a Faculdade de Letras de Lisboa, nesse ano lectivo, só abriu em Maio, o que levou a que a minha mãe me obrigasse a transferir para Coimbra, onde as aulas começaram em Janeiro e onde, da avaliação dos alunos, voltaram a constar frequências e exames. Em Lisboa, recorde-se, ainda se estava na fase dos trabalhos em grupo.

E já agora ainda se lembram da disciplina, do grau de exigência, da assiduidade e do nível dos professores que havia entre 1974 e 1978? Os melhores professores foram saneados. Os alunos recém-formados foram ordenados professores, segundo o princípio de que o melhor professor era aquele que tivesse sido aluno há pouco tempo, porque era esse que conhecia melhor as dificuldades do alunos. Às aulas só ia quem queria e quando as havia. As escolas e as universidades andavam ao sabor da célebres RGA (Reunião Geral de Alunos) que eram, na prática, quem detinha o poder efectivo. E, se alguém se atrevesse a falar em exames ou frequências, corria o risco de não sair dali vivo. Isso era considerado fascismo. O grau de exigência universitário era tal que um conhecido meu, que se tinha matriculado no primeiro ano de Economia para ir comer à cantina, ao pretender renovar a matrícula no ano seguinte, foi informado de que tinha passado para o 2º ano, sem nunca ter entrado numa sala de aula.

É verdade que a minha geração e a geração que me antecedeu liam muito mais do que a nova geração. Eu chegava a ler 40 livros por mês. Pudera! Não tinha mais nada para fazer, para além de mandar umas bocas nas RGA, beber uns copos com os amigos e etc. Viva o amor livre! E a maior parte dos meus colegas ainda mandavam umas “passas”.

E é agora esta geração (pasme-se!) que fica a tremer se os seus filhos tiverem um intervalo de 10 minutos para ir ao café!!!!... Impressionante!

O meu avô e a minha mãe é que tinham razão: coitado do país quando a minha geração chegasse ao poder! Ou seja, nós fomos aqueles contra quem agora prevenimos os nossos filhos. E, como trememos só de pensar que os nossos filhos possam passar pelos perigos que nós corremos, armamo-nos em pais da Bela Adormecida que, para a impedirem de se picar quando chegasse à idade perigosa, mandaram cortar todos os espinhos do reino. E tal como os pais da Bela Adormecida, também nós continuamos a ficar admirados quando constatamos que, apesar de termos cortado todos os espinhos do caminho dos nossos filhos, eles, mesmo assim, continuam a picar-se. Mas é o que sucede a quem foi habituado a viver num mundo sem espinhos…

E já agora adivinhem quem disse isto: 1) «A nossa juventude ama o luxo, é mal-educada, zomba da autoridade e não tem nenhuma espécie de respeito pelos velhos»; 2) «Não tenho nenhuma esperança no futuro do nosso país, se a juventude de hoje toma o mando amanhã, porque esta juventude é insuportável, sem moderação. Simplesmente terrível»; 3) «O nosso mundo atingiu um estado crítico. Os filhos não escutam os seus pais. O fim do mundo não pode estar muito longe»; 4) «Esta juventude está podre desde o fundo do coração. Os jovens são maus e preguiçosos. Não serão nunca a Juventude de outrora.».

A frase 1 foi dita por Sócrates (filósofo grego - séc.IV a.C.), a frase 2 por Hesíodo (séc.VIII a.C.), a frase 3 por um sacerdote egípcio (2.000 a.C) e a frase IV foi descoberta numa olaria da Babilónia (3.000 a.C.).

Como se constata, a minha geração (a geração dos nossos governantes), para além de incompetente e ter falta de memória, não é nada original nas suas afirmações.

Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha

Comments:
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