quinta-feira, julho 06, 2006
OS PAIS DO MONSTRO
No passado domingo, saíram no “Público” um artigo de opinião de António Borges e uma entrevista de Nuno Crato sobre a Educação e a senda reformadora da actual ministra. Da sua leitura, constata-se, por um lado, a grande clarividência e competência com que Nuno Crato fala de uma realidade que mostra conhecer bem; e, por outro, a ligeireza confrangeradora com que António Borges se decide mandar uns palpites sobre uma realidade que dá mostras de desconhecer.
Como militante do PSD (se bem que afastado das lides há já alguns anos) que depositava fundadas esperanças em António Borges, foi um autêntico balde de água fria, na medida em que esperava que um indivíduo com a sua formação e as suas ambições políticas não arriscasse uma opinião sobre um tema tão importante sem estar minimamente documentado para o fazer.
Mas a posição de António Borges, à semelhança de Cavaco Silva, José Miguel Júdice, Marcelo Rebelo de Sousa, etc. contribui apenas para que todos fiquemos a compreender por que razão o PSD foi um dos grandes responsáveis pelo afundamento da ensino público em Portugal. Provavelmente, por terem tido a sorte de ter podido educar os seus filhos em escolas privadas, conhecem apenas do ensino público os resultados estatísticos. Ou seja, sabem que o ensino público está doente, mas desconhecem o doente e a doença, o que é fundamental para se poder fazer um diagnóstico correcto e receitar a medicamentação adequada.
Pessoalmente, não conhecia a ministra da Educação, mas, francamente, não tive sequer tempo de alimentar ilusões. Bastou-me saber quem eram os seus secretários de Estado. E seria, de facto, um milagre que, com estes secretários de Estado, pudesse sair daquele Ministério uma ideia minimamente sensata ou razoável.
Ao contrário do que a ministra apregoa (conseguindo, dessa forma, cativar a direita irracional), entre a Fenprof e a ministra nada de essencial os separa no que respeita aos fundamentos teóricos que liquidaram a Educação em Portugal e de que Ana Benavente e Valter Lemos são duas grandes referências. O que divide a ministra e a Fenprof são meras questões salariais (progressão na carreira, idade da reforma, etc.).
Ao contrário do que António Borges parece acreditar, a actual ministra não manifesta qualquer preocupação com o combate à iliteracia (o verdadeiro insucesso escolar), mas apenas com o insucesso escolar estatístico. Com efeito, as reformas em curso só, aparentemente, se destinam a reforçar o grau de exigência do ensino, porque, na prática, apenas promovem, no ensino público, a mediocridade e o laxismo, forçando um sucesso escolar absolutamente artificial. A não ser que a estratégia do Governo e do PSD para a Educação, passe, precisamente, pela criação das escolas de nível: as escolas privadas, destinadas às elites e para aqueles que querem prosseguir os seus estudos, e as escolas públicas para o resto da maralha.
Se os dirigentes do PSD não estivessem, eles próprios, contaminados pelo dogmas do caldo de cultura pós-revolucionária onde cresceram e se preocupassem efectivamente em apresentar propostas sérias para a Educação com vista a promover a qualidade do ensino, já teriam defendido (pelo menos) as seguintes medidas: 1) Redução do número de disciplinas e do número de horas lectivas; 2) Exames nos finais de ciclo (4º, 6º, 9º e 12º anos) para aferir o nível dos alunos; 3) Criação de turmas de nível, a partir dos resultados dos exames: elevado, médio e baixo, sendo os dois níveis mais baixos obrigatoriamente profissionalizantes (os alunos nunca deviam reprovar mas apenas mudar de nível. O grande mal do nosso ensino são as reprovações, uma vez que começam a misturar na mesma turma garotos com matulões cheios de vícios, em que os piores são sempre os mais velhos e os mais fortes e que, por isso, se tornam os lideres da turma); 4) Avaliação dos professores pelos resultados obtidos (mas, para isso, são fundamentais os exames para se saber o que cada professor conseguiu acrescentar aos seus alunos); 6) Aulas de apoio para os alunos com dificuldades ou que as requeiram (com a actual carga horária, as aulas de apoio são uma estupidez); 7) Reforço da autoridade do professor e criação de escolas especiais para alunos com graves problemas disciplinares (professores, funcionários e alunos não podem ficar reféns de alunos extremamente violentos e insolentes que não respeitam nada, nem ninguém); 8) Criação de actividades extracurriculares (clubes, salas de estudo, disciplinas facultativas, etc.), mas apenas para os alunos cujos pais queiram (por que razão têm os filhos de passar na escola uma data de horas com actividades absolutamente inúteis, se os pais tiverem possibilidade de lhes proporcionar fora da escola actividades muito mais interessantes?)
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha
Como militante do PSD (se bem que afastado das lides há já alguns anos) que depositava fundadas esperanças em António Borges, foi um autêntico balde de água fria, na medida em que esperava que um indivíduo com a sua formação e as suas ambições políticas não arriscasse uma opinião sobre um tema tão importante sem estar minimamente documentado para o fazer.
Mas a posição de António Borges, à semelhança de Cavaco Silva, José Miguel Júdice, Marcelo Rebelo de Sousa, etc. contribui apenas para que todos fiquemos a compreender por que razão o PSD foi um dos grandes responsáveis pelo afundamento da ensino público em Portugal. Provavelmente, por terem tido a sorte de ter podido educar os seus filhos em escolas privadas, conhecem apenas do ensino público os resultados estatísticos. Ou seja, sabem que o ensino público está doente, mas desconhecem o doente e a doença, o que é fundamental para se poder fazer um diagnóstico correcto e receitar a medicamentação adequada.
Pessoalmente, não conhecia a ministra da Educação, mas, francamente, não tive sequer tempo de alimentar ilusões. Bastou-me saber quem eram os seus secretários de Estado. E seria, de facto, um milagre que, com estes secretários de Estado, pudesse sair daquele Ministério uma ideia minimamente sensata ou razoável.
Ao contrário do que a ministra apregoa (conseguindo, dessa forma, cativar a direita irracional), entre a Fenprof e a ministra nada de essencial os separa no que respeita aos fundamentos teóricos que liquidaram a Educação em Portugal e de que Ana Benavente e Valter Lemos são duas grandes referências. O que divide a ministra e a Fenprof são meras questões salariais (progressão na carreira, idade da reforma, etc.).
Ao contrário do que António Borges parece acreditar, a actual ministra não manifesta qualquer preocupação com o combate à iliteracia (o verdadeiro insucesso escolar), mas apenas com o insucesso escolar estatístico. Com efeito, as reformas em curso só, aparentemente, se destinam a reforçar o grau de exigência do ensino, porque, na prática, apenas promovem, no ensino público, a mediocridade e o laxismo, forçando um sucesso escolar absolutamente artificial. A não ser que a estratégia do Governo e do PSD para a Educação, passe, precisamente, pela criação das escolas de nível: as escolas privadas, destinadas às elites e para aqueles que querem prosseguir os seus estudos, e as escolas públicas para o resto da maralha.
Se os dirigentes do PSD não estivessem, eles próprios, contaminados pelo dogmas do caldo de cultura pós-revolucionária onde cresceram e se preocupassem efectivamente em apresentar propostas sérias para a Educação com vista a promover a qualidade do ensino, já teriam defendido (pelo menos) as seguintes medidas: 1) Redução do número de disciplinas e do número de horas lectivas; 2) Exames nos finais de ciclo (4º, 6º, 9º e 12º anos) para aferir o nível dos alunos; 3) Criação de turmas de nível, a partir dos resultados dos exames: elevado, médio e baixo, sendo os dois níveis mais baixos obrigatoriamente profissionalizantes (os alunos nunca deviam reprovar mas apenas mudar de nível. O grande mal do nosso ensino são as reprovações, uma vez que começam a misturar na mesma turma garotos com matulões cheios de vícios, em que os piores são sempre os mais velhos e os mais fortes e que, por isso, se tornam os lideres da turma); 4) Avaliação dos professores pelos resultados obtidos (mas, para isso, são fundamentais os exames para se saber o que cada professor conseguiu acrescentar aos seus alunos); 6) Aulas de apoio para os alunos com dificuldades ou que as requeiram (com a actual carga horária, as aulas de apoio são uma estupidez); 7) Reforço da autoridade do professor e criação de escolas especiais para alunos com graves problemas disciplinares (professores, funcionários e alunos não podem ficar reféns de alunos extremamente violentos e insolentes que não respeitam nada, nem ninguém); 8) Criação de actividades extracurriculares (clubes, salas de estudo, disciplinas facultativas, etc.), mas apenas para os alunos cujos pais queiram (por que razão têm os filhos de passar na escola uma data de horas com actividades absolutamente inúteis, se os pais tiverem possibilidade de lhes proporcionar fora da escola actividades muito mais interessantes?)
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha