segunda-feira, agosto 07, 2006

 

NÃO DESISTA, SENHORA MINISTRA!

(Não faça como eu)

Disse a senhora ministra da Educação que os exames servem para avaliar os alunos e os professores. Ora, os exames servem, em primeiro lugar, para avaliar a entidade responsável pela elaboração dos enunciados e, só depois de se verificar que os mesmos estão adequados àquilo que pretendem avaliar, é que servem para avaliar os alunos e os respectivos professores.

Assim sendo, os exames deste ano apenas serviram para confirmar aquilo que qualquer professor competente já tinha concluído através da simples observação directa. Ou seja, que a actual equipa ministerial era incompetente e muito pouco inteligente. Incompetente na medida em que desconhece, em absoluto, a realidade escolar. Só assim se justifica a apresentação de enunciados absolutamente inadequados ao cumprimento da sua função. E pouco inteligente porque conseguiu, com as suas inteligentes medidas para melhorar a qualidade do ensino nas escolas e o sucesso escolar, produzir o efeito precisamente contrário ao pretendido.

Não foi a senhora ministra que disse que os exames servem para avaliar os alunos e os professores? A ser assim a conclusão a extrair pela senhora ministra dos resultados dos exames deste ano só pode ser uma: os alunos e os professores estão piores.

Ora, se os professores passaram, este ano, mais tempo nas escolas e se os alunos tiveram o tempo mais ocupado, quer com aulas de substituição, quer com aulas de apoio, como se explica que os resultados tivessem piorado?

Imagine o leitor que se deparava com a seguinte situação para resolver: duas crianças incapazes de andar, uma por se encontrar sub-nutrida e outra excessivamente obesa. Eu sei o que o leitor faria. Mas se, em vez do leitor, as duas crianças tivessem o azar de cair nas mãos da senhora ministra da Educação a solução era a seguinte: obrigava a criança obesa a ingerir mais calorias e a criança sub-nutrida a fazer dieta. E, depois, ficava muito admirada, passado um ano, se as duas crianças não se mexessem. E se alguém se atrevesse a denunciar o erro, era ainda acusado inevitavelmente de não querer que se fizesse nada para pôr as duas crianças a caminhar.

Há um ano havia nas escolas bons e maus professores. Agora só já há maus professores. Com as suas inteligentes medidas, a senhora ministra conseguiu, por um lado, dar uma justificação aos maus professores para continuarem a ser maus e, por outro, desmotivar e desmobilizar completamente os bons professores que agora se arrastam pelas escolas, maldizendo a sua vida e todas as horas que dedicaram à escola. Ninguém consegue ser bom professor se estiver psicologicamente em baixo. E hoje só um imbecil é que consegue manter a auto-estima em alta com esta ministra. Mas um imbecil não é, obviamente, um bom professor.

Eu, pessoalmente, para salvaguarda da minha saúde mental e por respeito a mim mesmo, já pedi licença sem vencimento de longa duração, depois de 25 anos de ensino e de 25 anos a escrever (ingloriamente) sobre a educação. Se a senhora ministra se der ao trabalho de analisar os resultados das minhas turmas em exames nacionais, a minha assiduidade, os meus conhecimentos, específicos e gerais, não poderá deixar de constatar que fui um bom professor. E não temo debater com a senhora ministra ou com qualquer dos seus secretários de Estado qualquer tema sobre a Educação e o estado a que isto chegou e que a senhora ministra ainda ajudou a agravar mais.

Os meus colegas mais optimistas acreditam que a senhora ministra, apercebendo-se do actual estado da Educação em Portugal, resolveu arranjar uma equipa ministerial, não para reformar o sistema, mas para o fazer ruir de vez. Se for assim, já cá não está quem falou e só me resta pedir-lhe uma coisa: não desista, senhora ministra! Mais um esforçozinho e o edifício vem abaixo!

Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha

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