terça-feira, setembro 12, 2006

 

O CASO MATEUS

E a imprensa (pouco) desportiva

1. Antes de nos pormos a discutir a(s) questão(ões) de fundo do «caso Mateus», há uma questão prévia que eu gostaria que cada um de nós respondesse em consciência: se, em vez do Gil Vicente, tivesse sido o Benfica, o Sporting ou o Porto, os órgãos disciplinares da Liga tinham também decidido pela despromoção do clube?

Todos sabemos que não. Ora, se assim é, como todos nós temos a certeza que é, tal significa que as decisões dos órgãos disciplinares da Liga e da Federação estão afectadas na sua credibilidade, logo não se pode exigir a ninguém que se conforme com elas ou que as respeite.

E não deixa de ser engraçado, revelando bem o grau de hipocrisia tão característica do bom povo português, que sejam precisamente aqueles que mais clamam contra o tão famigerado «sistema», os primeiros a vir defender o respeitinho pelas decisões dos órgãos disciplinares da Liga e da Federação (ou seja, do sistema).

Esta é, também, obviamente, a posição da esmagadora maioria dos adeptos portugueses (todos eles do Benfica, do Sporting e do Porto) para quem os clubes pequenos apenas deviam servir para garantir o número mínimo de equipas para que o campeonato da Iª Liga se realizasse, sem direito a atrapalhar o «sistema» de que os três grandes sãos os fundadores, os padrinhos e os grandes beneficiários.

Eu até compreendo que a FIFA não queira ver os tribunais comuns metidos nos seus assuntos, mas também compreendo que um clube português não se conforme com decisões provenientes de uma organização que todos os dirigentes reconhecem e proclamam aos quatro ventos estar manifestamente viciada e enredada em compradios, arranjinhos e jogos de interesse de toda a espécie.

E quando o Benfica, que pariu a actual direcção da Liga (único clube dos três grandes, saliente-se, que apoiou e se empenhou na actual Direcção, tendo ficado até com o cargo mais importante: director executivo), vem agora armar-se em grande defensor da regeneração do futebol português e clamar pelo fim da Liga, ficamos absolutamente elucidados e esclarecidos do estado de podridão a que isto chegou.

2. No dia da final da Supertaça, as primeiras páginas dos jornais A Bola e Record foram umas declarações absolutamente anódinas de Luisão e, no dia seguinte, foram umas declarações de idêntico valor de Simão (?). Ou seja, o maior acontecimento desportivo daquele dia foi sacrificado, nos dois maiores jornais desportivos nacionais, por umas declarações de circunstância de dois futebolistas do Benfica. A mesma desvalorização sucedeu, de resto, com a vitória do Obikwelu nos 100 metros dos campeonatos da Europa.

As direcções dos dois jornais justificam o facto de a primeira página dos seus jornais ser feita, sistematicamente, com o Benfica (salvo raras excepções), por ser o clube que mais vende. E, como é o que mais vende, para agradar ao potencial mercado dos seis milhões de benfiquistas, impõe-se que se sacrifiquem as notícias dos resultados desportivos de relevo aos “fait divers” do dia a dia dos jogadores e dirigentes do Benfica. Segundo esta perspectiva, é mais importante, porque mais vendável, a ida do Simão à retrete do que o Vitória de Setúbal ser apurado para a final da Taça de Portugal ou disputar a Supertaça.

Só que esta preocupação obsessiva de agradar aos seis milhões de benfiquistas não pode deixar de afectar a seriedade do jornal, uma vez que a preocupação de agradar aos benfiquistas não poderá deixar de se manter, por maioria de razão, nas análises e nos comentários que se fazem dos jogos. Obviamente.

Ora, valorizar ou desvalorizar um feito desportivo consoante a equipa que o alcança, para além de ser muito pouco ético e desportivo, é uma forma intolerável de chantagem sobre os poderes que dominam o futebol e, consequentemente, um contributo decisivo para perpetuar o atoleiro em que o mesmo se transformou.


Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha

Comments:
tao oh irmao do bocage tb andas metido nixo ou nao?! no tempo k tivest no electrico nao houve algum caso mateus? Tao e o apito dourado?! onde e que ele anda?
 
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