quinta-feira, outubro 26, 2006
EU SOU HUNGARO!
Também não gosto de ser enganado
A Hungria está em pé de guerra e em estado de choque porque soube que o seu primeiro-ministro tinha confessado, numa reunião do seu partido, que mentira nas últimas eleições para as poder ganhar. Fazendo um paralelo com o que se passou em Portugal, podemos facilmente constatar muitas semelhanças e uma grande diferença.
Em Portugal, tal como na Hungria, a situação económica é má, o primeiro-ministro é socialista e mentiu para ganhar as eleições. Onde está, então, a grande diferença entre Portugal e Hungria? Não está obviamente nos dois eleitos, que, pelos vistos, são farinha do mesmo saco. A diferença está nos eleitores que, na Hungria, não aceitam terem sido enganados e exigem, agora, nas ruas, que o primeiro-ministro eleito lhes devolva os votos que comprou com as mentiras que lhes vendeu.
Em Portugal, pelo contrário, todos achamos absolutamente normal que os nossos políticos (e não só), para vencerem as eleições (ou o que quer que seja), nos mintam com todos os dentes que têm na boca. Aliás, se aparece alguém que fala verdade, fica logo desclassificado aos nossos olhos. É um anjinho...
Enquanto em Inglaterra, um adepto não admite que um jogador do seu clube simule faltas, lesões ou faça anti-jogo, em Portugal, são os próprios adeptos que exigem que os seus jogadores se atirem para o chão, simulem faltas e lesões para queimar tempo, com vista a ganhar o jogo. Só ficamos mesmo escandalizados quando são os jogadores da equipa adversária a usar estes expedientes. E, então, se a nossa equipa ganha o jogo com um golo marcado com a mão ou em descarado fora-de-jogo... O que interessa é ganhar.
Os enredos do «Apito Dourado» são o melhor exemplo da nossa falta de vergonha. Depois de conhecido o teor das escutas telefónicas de Luís Filipe Vieira e José Veiga , qual foi a reacção da nação benfiquista? O que a distinguiu da nação portista quando se soube de escutas idênticas a Pinto Costa? Nada. Absolutamente nada. Começaram, primeiro, por desmentir; depois tentaram justificá-las com o facto de serem absolutamente normais (quando o mal está precisamente nessa normalidade); e, finalmente, mobilizaram-se em torno da candidatura do seu presidente, em nome da regeneração do futebol português. Ou seja, tudo o que o nosso presidente fizer para que o nosso clube ganhe só dignifica e engrandece o nosso clube; tudo o que o presidente adversário faça só conspurca e corrompe o futebol português. E vejam lá a ingenuidade de Luís Filipe Vieira que julgava, até esta semana, que o envolvimento do major Valentim Loureiro no «Apito Dourado» não tinha fundamento, razão por que sempre o apoiou!!!!… Tanta ingenuidade num presidente do Benfica também é capaz de ser de mais….
Como se pode, pois, constatar, o problema não é nem do primeiro-ministro, nem dos políticos, nem do presidente do Benfica, do Porto ou da Liga. O nosso problema somos nós e esta nossa maneira de ser: tão exigentes com os outros e tão condescendentes connosco. Infelizmente demos nisto: um povo de gente mole, sabuja, mesquinha, sem coluna vertebral e naturalmente corrupta. E a melhor prova de que somos assim é que, na Hungria, o povo saiu à rua, quando soube que o primeiro-ministro lhes tinha mentido, e, em Portugal, nós continuamos tranquilamente em casa.
Enquanto cada um de nós não for capaz de se indignar com os mentirosos, incompetentes e aldrabões que proliferam por este país fora e de corrê-los do nosso governo, do nosso partido, do nosso clube, da nossa classe profissional e da repartição onde trabalhamos, o nosso país nunca vai conseguir sair do atoleiro em que se encontra profundamente mergulhado.
E não me venham com Pactos da Justiça ou do que quer que seja. Acredito tanto no Pacto da Justiça, como num Pacto para a Regeneração do Futebol Português assinado por Valentim Loureiro, Pinto da Costa, Reinaldo Teles, Luís Filipe Vieira e José Veiga. Será assim tão difícil entender isto?
Mudem as mentalidades e verão que as leis, mesmo sem serem alteradas, mudam naturalmente; mantenham a mesma mentalidade e as leis, por mais que sejam alteradas, continuarão sempre na mesma.
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha
A Hungria está em pé de guerra e em estado de choque porque soube que o seu primeiro-ministro tinha confessado, numa reunião do seu partido, que mentira nas últimas eleições para as poder ganhar. Fazendo um paralelo com o que se passou em Portugal, podemos facilmente constatar muitas semelhanças e uma grande diferença.
Em Portugal, tal como na Hungria, a situação económica é má, o primeiro-ministro é socialista e mentiu para ganhar as eleições. Onde está, então, a grande diferença entre Portugal e Hungria? Não está obviamente nos dois eleitos, que, pelos vistos, são farinha do mesmo saco. A diferença está nos eleitores que, na Hungria, não aceitam terem sido enganados e exigem, agora, nas ruas, que o primeiro-ministro eleito lhes devolva os votos que comprou com as mentiras que lhes vendeu.
Em Portugal, pelo contrário, todos achamos absolutamente normal que os nossos políticos (e não só), para vencerem as eleições (ou o que quer que seja), nos mintam com todos os dentes que têm na boca. Aliás, se aparece alguém que fala verdade, fica logo desclassificado aos nossos olhos. É um anjinho...
Enquanto em Inglaterra, um adepto não admite que um jogador do seu clube simule faltas, lesões ou faça anti-jogo, em Portugal, são os próprios adeptos que exigem que os seus jogadores se atirem para o chão, simulem faltas e lesões para queimar tempo, com vista a ganhar o jogo. Só ficamos mesmo escandalizados quando são os jogadores da equipa adversária a usar estes expedientes. E, então, se a nossa equipa ganha o jogo com um golo marcado com a mão ou em descarado fora-de-jogo... O que interessa é ganhar.
Os enredos do «Apito Dourado» são o melhor exemplo da nossa falta de vergonha. Depois de conhecido o teor das escutas telefónicas de Luís Filipe Vieira e José Veiga , qual foi a reacção da nação benfiquista? O que a distinguiu da nação portista quando se soube de escutas idênticas a Pinto Costa? Nada. Absolutamente nada. Começaram, primeiro, por desmentir; depois tentaram justificá-las com o facto de serem absolutamente normais (quando o mal está precisamente nessa normalidade); e, finalmente, mobilizaram-se em torno da candidatura do seu presidente, em nome da regeneração do futebol português. Ou seja, tudo o que o nosso presidente fizer para que o nosso clube ganhe só dignifica e engrandece o nosso clube; tudo o que o presidente adversário faça só conspurca e corrompe o futebol português. E vejam lá a ingenuidade de Luís Filipe Vieira que julgava, até esta semana, que o envolvimento do major Valentim Loureiro no «Apito Dourado» não tinha fundamento, razão por que sempre o apoiou!!!!… Tanta ingenuidade num presidente do Benfica também é capaz de ser de mais….
Como se pode, pois, constatar, o problema não é nem do primeiro-ministro, nem dos políticos, nem do presidente do Benfica, do Porto ou da Liga. O nosso problema somos nós e esta nossa maneira de ser: tão exigentes com os outros e tão condescendentes connosco. Infelizmente demos nisto: um povo de gente mole, sabuja, mesquinha, sem coluna vertebral e naturalmente corrupta. E a melhor prova de que somos assim é que, na Hungria, o povo saiu à rua, quando soube que o primeiro-ministro lhes tinha mentido, e, em Portugal, nós continuamos tranquilamente em casa.
Enquanto cada um de nós não for capaz de se indignar com os mentirosos, incompetentes e aldrabões que proliferam por este país fora e de corrê-los do nosso governo, do nosso partido, do nosso clube, da nossa classe profissional e da repartição onde trabalhamos, o nosso país nunca vai conseguir sair do atoleiro em que se encontra profundamente mergulhado.
E não me venham com Pactos da Justiça ou do que quer que seja. Acredito tanto no Pacto da Justiça, como num Pacto para a Regeneração do Futebol Português assinado por Valentim Loureiro, Pinto da Costa, Reinaldo Teles, Luís Filipe Vieira e José Veiga. Será assim tão difícil entender isto?
Mudem as mentalidades e verão que as leis, mesmo sem serem alteradas, mudam naturalmente; mantenham a mesma mentalidade e as leis, por mais que sejam alteradas, continuarão sempre na mesma.
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha
quinta-feira, outubro 05, 2006
O HORIZONTE É NEGRO
A esquerda, as salas de chuto e os traficantes
Hoje em dia, para se ser respeitado e considerado socialmente, basta ter dinheiro. Pouco importa de onde ele vem. Desde que se tenha, o estatuto está garantido. Ora, como é do conhecimento público, o tráfico de droga continua a ser uma das formas mais rápidas de enriquecer. E como o que importa é o dinheiro que se ganha e não a forma como se ganha, os traficantes, para serem pessoas socialmente consideradas, não precisam que lhes dignifiquem a actividade, basta tão só que lhes garantam o mercado.
Acontece que, para os traficantes conseguirem renovar e alargar o mercado, é forçoso que as pessoas passem a encarar o consumo de droga com outros olhos. Não como algo de medonho, criminoso, que leva as pessoas à morte e arruina as famílias, mas como um vício igual a tantos outros socialmente aceites (como o tabaco e o álcool) que só levará a situações extremas se as pessoas não se souberem controlar. Neste contexto, as chamadas "salas de chuto" desempenham um papel fundamental, na medida em que retiram das nossas vistas esse espectáculo degradante dos toxicodependentes a injectarem-se. E todos sabemos que uma imagem vale por mil palavras...
"Salas de chuto" que tenderão a transformar-se, em breve, como é óbvio, numa espécie de "Sopa dos Pobres" dos consumidores, com o Estado a fornecer gratuitamente a droga a todos os miseráveis que já não tenham ou não consigam angariar meios para a comprar.
Não há um único bom argumento dos defensores da descriminalização que seja sustentável. Argumento nº1: «O proibicionismo e a repressão não resolveram até agora o problema e só têm servido para enriquecer os traficantes». Ora, este mesmo argumento aplica-se ao tráfico de menores, de mulheres e de trabalhadores clandestinos e ainda não vi ninguém defender a sua descriminalização. Sendo certo que são os próprios defensores da liberalização do consumo de drogas que defendem a proibição de venda de drogas a menores, o que parece uma contradição para quem considera que proibir não resolve o problema. Para já não falar do aumento da repressão para a condução sob o efeito do álcool e a pedofilia. Também, nestes casos, a repressão não resolveu o problema até agora... E se é a repressão sobre consumo que enriquece os traficantes, por que razão as multinacionais de armas e de tabaco não exultam com as leis cada vez mais repressivas ao consumo de tabaco e armas? Argumento nº2: «O toxicodependente é um doente». Os pedófilos também são doentes e ainda não vi ninguém (em Portugal) defender a legalização da pedofilia. Além disso, se a pedofilia destrói a vida de muitos menores, o consumo de droga destrói a vida de muitos mais, conduzindo-os, inclusive, à prostituição.
Argumento nº3: «No caso do consumo de drogas, está-se no campo da liberdade individual, não se prejudicando terceiros». Em primeiro lugar, isto não é verdade. Como todos sabemos, o consumo de droga é a principal causa da degradação das famílias e da comunidade. Ou seja, afecta não só o indivíduo mas toda a comunidade onde está inserido. ....
No entanto, reconheço que hoje é difícil a nossa classe dirigente conseguir levar por diante um combate sério contra o tráfico e o consumo de droga. E por uma simples razão: é que hoje estamos a ser governados pela célebre «geração do charro» que, nos anos 60, se encarregou de vulgarizar e espalhar o consumo de drogas nos meios universitários e estudantis com o sábio argumento de que fumar um charro era tão perigoso como fumar um cigarro ou beber uma imperial.
Não é, por isso, de estranhar que os grandes traficantes, na sua estratégia de aligeirar e amenizar a conotação extremamente negativa do consumo de droga que está profundamente enraizada na comunidade em geral, encontrem na esquerda o seu principal aliado. Até porque, segundo a doutrina marxista, o aniquilamento da sociedade capitalista passa forçosamente pela destruição da sua principal instituição: a família tradicional. Durante todo o século XX, a esquerda moveu-lhe uma luta sem tréguas. Acontece que, por mais medidas que propusessem visando a sua desagregação, só mesmo o consumo de drogas se veio a revelar, afinal, com potencial suficiente para o conseguir. E, apesar de lhes repugnar esta forma sórdida de enriquecer, a verdade é que, para a esquerda em geral, todos os meios são bons quando o fim a atingir é a destruição da sociedade capitalista.
Por este motivo, não me admira, e até compreendo que os traficantes, por razões comerciais, e a esquerda, por razões estratégicas, defendam a descriminalização do consumo de droga, as chamadas "salas de chuto" e a sua equiparação ao consumo de tabaco e álcool. Agora, o que eu não compreendo é a ingenuidade de quem, não sendo traficante, nem de esquerda, defende estas medidas e as põe em prática.
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha
Hoje em dia, para se ser respeitado e considerado socialmente, basta ter dinheiro. Pouco importa de onde ele vem. Desde que se tenha, o estatuto está garantido. Ora, como é do conhecimento público, o tráfico de droga continua a ser uma das formas mais rápidas de enriquecer. E como o que importa é o dinheiro que se ganha e não a forma como se ganha, os traficantes, para serem pessoas socialmente consideradas, não precisam que lhes dignifiquem a actividade, basta tão só que lhes garantam o mercado.
Acontece que, para os traficantes conseguirem renovar e alargar o mercado, é forçoso que as pessoas passem a encarar o consumo de droga com outros olhos. Não como algo de medonho, criminoso, que leva as pessoas à morte e arruina as famílias, mas como um vício igual a tantos outros socialmente aceites (como o tabaco e o álcool) que só levará a situações extremas se as pessoas não se souberem controlar. Neste contexto, as chamadas "salas de chuto" desempenham um papel fundamental, na medida em que retiram das nossas vistas esse espectáculo degradante dos toxicodependentes a injectarem-se. E todos sabemos que uma imagem vale por mil palavras...
"Salas de chuto" que tenderão a transformar-se, em breve, como é óbvio, numa espécie de "Sopa dos Pobres" dos consumidores, com o Estado a fornecer gratuitamente a droga a todos os miseráveis que já não tenham ou não consigam angariar meios para a comprar.
Não há um único bom argumento dos defensores da descriminalização que seja sustentável. Argumento nº1: «O proibicionismo e a repressão não resolveram até agora o problema e só têm servido para enriquecer os traficantes». Ora, este mesmo argumento aplica-se ao tráfico de menores, de mulheres e de trabalhadores clandestinos e ainda não vi ninguém defender a sua descriminalização. Sendo certo que são os próprios defensores da liberalização do consumo de drogas que defendem a proibição de venda de drogas a menores, o que parece uma contradição para quem considera que proibir não resolve o problema. Para já não falar do aumento da repressão para a condução sob o efeito do álcool e a pedofilia. Também, nestes casos, a repressão não resolveu o problema até agora... E se é a repressão sobre consumo que enriquece os traficantes, por que razão as multinacionais de armas e de tabaco não exultam com as leis cada vez mais repressivas ao consumo de tabaco e armas? Argumento nº2: «O toxicodependente é um doente». Os pedófilos também são doentes e ainda não vi ninguém (em Portugal) defender a legalização da pedofilia. Além disso, se a pedofilia destrói a vida de muitos menores, o consumo de droga destrói a vida de muitos mais, conduzindo-os, inclusive, à prostituição.
Argumento nº3: «No caso do consumo de drogas, está-se no campo da liberdade individual, não se prejudicando terceiros». Em primeiro lugar, isto não é verdade. Como todos sabemos, o consumo de droga é a principal causa da degradação das famílias e da comunidade. Ou seja, afecta não só o indivíduo mas toda a comunidade onde está inserido. ....
No entanto, reconheço que hoje é difícil a nossa classe dirigente conseguir levar por diante um combate sério contra o tráfico e o consumo de droga. E por uma simples razão: é que hoje estamos a ser governados pela célebre «geração do charro» que, nos anos 60, se encarregou de vulgarizar e espalhar o consumo de drogas nos meios universitários e estudantis com o sábio argumento de que fumar um charro era tão perigoso como fumar um cigarro ou beber uma imperial.
Não é, por isso, de estranhar que os grandes traficantes, na sua estratégia de aligeirar e amenizar a conotação extremamente negativa do consumo de droga que está profundamente enraizada na comunidade em geral, encontrem na esquerda o seu principal aliado. Até porque, segundo a doutrina marxista, o aniquilamento da sociedade capitalista passa forçosamente pela destruição da sua principal instituição: a família tradicional. Durante todo o século XX, a esquerda moveu-lhe uma luta sem tréguas. Acontece que, por mais medidas que propusessem visando a sua desagregação, só mesmo o consumo de drogas se veio a revelar, afinal, com potencial suficiente para o conseguir. E, apesar de lhes repugnar esta forma sórdida de enriquecer, a verdade é que, para a esquerda em geral, todos os meios são bons quando o fim a atingir é a destruição da sociedade capitalista.
Por este motivo, não me admira, e até compreendo que os traficantes, por razões comerciais, e a esquerda, por razões estratégicas, defendam a descriminalização do consumo de droga, as chamadas "salas de chuto" e a sua equiparação ao consumo de tabaco e álcool. Agora, o que eu não compreendo é a ingenuidade de quem, não sendo traficante, nem de esquerda, defende estas medidas e as põe em prática.
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha