quinta-feira, outubro 05, 2006
O HORIZONTE É NEGRO
A esquerda, as salas de chuto e os traficantes
Hoje em dia, para se ser respeitado e considerado socialmente, basta ter dinheiro. Pouco importa de onde ele vem. Desde que se tenha, o estatuto está garantido. Ora, como é do conhecimento público, o tráfico de droga continua a ser uma das formas mais rápidas de enriquecer. E como o que importa é o dinheiro que se ganha e não a forma como se ganha, os traficantes, para serem pessoas socialmente consideradas, não precisam que lhes dignifiquem a actividade, basta tão só que lhes garantam o mercado.
Acontece que, para os traficantes conseguirem renovar e alargar o mercado, é forçoso que as pessoas passem a encarar o consumo de droga com outros olhos. Não como algo de medonho, criminoso, que leva as pessoas à morte e arruina as famílias, mas como um vício igual a tantos outros socialmente aceites (como o tabaco e o álcool) que só levará a situações extremas se as pessoas não se souberem controlar. Neste contexto, as chamadas "salas de chuto" desempenham um papel fundamental, na medida em que retiram das nossas vistas esse espectáculo degradante dos toxicodependentes a injectarem-se. E todos sabemos que uma imagem vale por mil palavras...
"Salas de chuto" que tenderão a transformar-se, em breve, como é óbvio, numa espécie de "Sopa dos Pobres" dos consumidores, com o Estado a fornecer gratuitamente a droga a todos os miseráveis que já não tenham ou não consigam angariar meios para a comprar.
Não há um único bom argumento dos defensores da descriminalização que seja sustentável. Argumento nº1: «O proibicionismo e a repressão não resolveram até agora o problema e só têm servido para enriquecer os traficantes». Ora, este mesmo argumento aplica-se ao tráfico de menores, de mulheres e de trabalhadores clandestinos e ainda não vi ninguém defender a sua descriminalização. Sendo certo que são os próprios defensores da liberalização do consumo de drogas que defendem a proibição de venda de drogas a menores, o que parece uma contradição para quem considera que proibir não resolve o problema. Para já não falar do aumento da repressão para a condução sob o efeito do álcool e a pedofilia. Também, nestes casos, a repressão não resolveu o problema até agora... E se é a repressão sobre consumo que enriquece os traficantes, por que razão as multinacionais de armas e de tabaco não exultam com as leis cada vez mais repressivas ao consumo de tabaco e armas? Argumento nº2: «O toxicodependente é um doente». Os pedófilos também são doentes e ainda não vi ninguém (em Portugal) defender a legalização da pedofilia. Além disso, se a pedofilia destrói a vida de muitos menores, o consumo de droga destrói a vida de muitos mais, conduzindo-os, inclusive, à prostituição.
Argumento nº3: «No caso do consumo de drogas, está-se no campo da liberdade individual, não se prejudicando terceiros». Em primeiro lugar, isto não é verdade. Como todos sabemos, o consumo de droga é a principal causa da degradação das famílias e da comunidade. Ou seja, afecta não só o indivíduo mas toda a comunidade onde está inserido. ....
No entanto, reconheço que hoje é difícil a nossa classe dirigente conseguir levar por diante um combate sério contra o tráfico e o consumo de droga. E por uma simples razão: é que hoje estamos a ser governados pela célebre «geração do charro» que, nos anos 60, se encarregou de vulgarizar e espalhar o consumo de drogas nos meios universitários e estudantis com o sábio argumento de que fumar um charro era tão perigoso como fumar um cigarro ou beber uma imperial.
Não é, por isso, de estranhar que os grandes traficantes, na sua estratégia de aligeirar e amenizar a conotação extremamente negativa do consumo de droga que está profundamente enraizada na comunidade em geral, encontrem na esquerda o seu principal aliado. Até porque, segundo a doutrina marxista, o aniquilamento da sociedade capitalista passa forçosamente pela destruição da sua principal instituição: a família tradicional. Durante todo o século XX, a esquerda moveu-lhe uma luta sem tréguas. Acontece que, por mais medidas que propusessem visando a sua desagregação, só mesmo o consumo de drogas se veio a revelar, afinal, com potencial suficiente para o conseguir. E, apesar de lhes repugnar esta forma sórdida de enriquecer, a verdade é que, para a esquerda em geral, todos os meios são bons quando o fim a atingir é a destruição da sociedade capitalista.
Por este motivo, não me admira, e até compreendo que os traficantes, por razões comerciais, e a esquerda, por razões estratégicas, defendam a descriminalização do consumo de droga, as chamadas "salas de chuto" e a sua equiparação ao consumo de tabaco e álcool. Agora, o que eu não compreendo é a ingenuidade de quem, não sendo traficante, nem de esquerda, defende estas medidas e as põe em prática.
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha
Hoje em dia, para se ser respeitado e considerado socialmente, basta ter dinheiro. Pouco importa de onde ele vem. Desde que se tenha, o estatuto está garantido. Ora, como é do conhecimento público, o tráfico de droga continua a ser uma das formas mais rápidas de enriquecer. E como o que importa é o dinheiro que se ganha e não a forma como se ganha, os traficantes, para serem pessoas socialmente consideradas, não precisam que lhes dignifiquem a actividade, basta tão só que lhes garantam o mercado.
Acontece que, para os traficantes conseguirem renovar e alargar o mercado, é forçoso que as pessoas passem a encarar o consumo de droga com outros olhos. Não como algo de medonho, criminoso, que leva as pessoas à morte e arruina as famílias, mas como um vício igual a tantos outros socialmente aceites (como o tabaco e o álcool) que só levará a situações extremas se as pessoas não se souberem controlar. Neste contexto, as chamadas "salas de chuto" desempenham um papel fundamental, na medida em que retiram das nossas vistas esse espectáculo degradante dos toxicodependentes a injectarem-se. E todos sabemos que uma imagem vale por mil palavras...
"Salas de chuto" que tenderão a transformar-se, em breve, como é óbvio, numa espécie de "Sopa dos Pobres" dos consumidores, com o Estado a fornecer gratuitamente a droga a todos os miseráveis que já não tenham ou não consigam angariar meios para a comprar.
Não há um único bom argumento dos defensores da descriminalização que seja sustentável. Argumento nº1: «O proibicionismo e a repressão não resolveram até agora o problema e só têm servido para enriquecer os traficantes». Ora, este mesmo argumento aplica-se ao tráfico de menores, de mulheres e de trabalhadores clandestinos e ainda não vi ninguém defender a sua descriminalização. Sendo certo que são os próprios defensores da liberalização do consumo de drogas que defendem a proibição de venda de drogas a menores, o que parece uma contradição para quem considera que proibir não resolve o problema. Para já não falar do aumento da repressão para a condução sob o efeito do álcool e a pedofilia. Também, nestes casos, a repressão não resolveu o problema até agora... E se é a repressão sobre consumo que enriquece os traficantes, por que razão as multinacionais de armas e de tabaco não exultam com as leis cada vez mais repressivas ao consumo de tabaco e armas? Argumento nº2: «O toxicodependente é um doente». Os pedófilos também são doentes e ainda não vi ninguém (em Portugal) defender a legalização da pedofilia. Além disso, se a pedofilia destrói a vida de muitos menores, o consumo de droga destrói a vida de muitos mais, conduzindo-os, inclusive, à prostituição.
Argumento nº3: «No caso do consumo de drogas, está-se no campo da liberdade individual, não se prejudicando terceiros». Em primeiro lugar, isto não é verdade. Como todos sabemos, o consumo de droga é a principal causa da degradação das famílias e da comunidade. Ou seja, afecta não só o indivíduo mas toda a comunidade onde está inserido. ....
No entanto, reconheço que hoje é difícil a nossa classe dirigente conseguir levar por diante um combate sério contra o tráfico e o consumo de droga. E por uma simples razão: é que hoje estamos a ser governados pela célebre «geração do charro» que, nos anos 60, se encarregou de vulgarizar e espalhar o consumo de drogas nos meios universitários e estudantis com o sábio argumento de que fumar um charro era tão perigoso como fumar um cigarro ou beber uma imperial.
Não é, por isso, de estranhar que os grandes traficantes, na sua estratégia de aligeirar e amenizar a conotação extremamente negativa do consumo de droga que está profundamente enraizada na comunidade em geral, encontrem na esquerda o seu principal aliado. Até porque, segundo a doutrina marxista, o aniquilamento da sociedade capitalista passa forçosamente pela destruição da sua principal instituição: a família tradicional. Durante todo o século XX, a esquerda moveu-lhe uma luta sem tréguas. Acontece que, por mais medidas que propusessem visando a sua desagregação, só mesmo o consumo de drogas se veio a revelar, afinal, com potencial suficiente para o conseguir. E, apesar de lhes repugnar esta forma sórdida de enriquecer, a verdade é que, para a esquerda em geral, todos os meios são bons quando o fim a atingir é a destruição da sociedade capitalista.
Por este motivo, não me admira, e até compreendo que os traficantes, por razões comerciais, e a esquerda, por razões estratégicas, defendam a descriminalização do consumo de droga, as chamadas "salas de chuto" e a sua equiparação ao consumo de tabaco e álcool. Agora, o que eu não compreendo é a ingenuidade de quem, não sendo traficante, nem de esquerda, defende estas medidas e as põe em prática.
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha