segunda-feira, novembro 06, 2006
Geração Recibos Verdes e o Soneca
1. Domingo. Café. Com velho amigo. “Então sabes que vamos pagar mais impostos?”. “Ah?”, perguntei. “Sim, a malta do recibo vai pagar mais impostos”. A minha reacção, aquela que ainda trago, ficou entre o desespero e o riso. Desespero porque já começa a ser demais. Riso porque é uma jogada esperta. Daquela esperteza saloia. É tão fácil meter o mão no bolso de uma geração que não é sindicalizada e que, por isso, não tem share televisivo.
2. Mas a verdade é que já não quero saber se este orçamento carrega ainda mais na geração recibos verdes, a minha, aquela que anda a ser explorada pelos filhos de 1976. Não quero saber. Porque só quero saber uma coisa: quando é que matamos este regime? Matamos de matar e não de reformar.
Não respeito um regime que, em nome da justiça social, estraga o início de vida de milhares de casais a fim de proteger duas minorias: funcionários públicos e reformados. Quero apenas que este regime finde. Quero apenas que chegue um político com a coragem de dizer aquilo que toda a gente sabe mas que ainda é proibido dizer: “isto acabou! Vamos mudar de vida!”.
3. E os jornalistas? Que dizem desta geração? Nada. Os jovens das grandes cidades não podem ser os explorados do regime. Os explorados estéticos são outros. Basta fechar uma fabriqueta de sapatos algures no interior para que os “explorados” tenham 5 minutos de directo melodramático. Os jornalistas não percebem que os verdadeiros explorados trabalham mesmo ao seu lado, em Lisboa. Estão a trabalhar, agora, num call center qualquer, enquanto que os explorados estéticos estão a recolher o subsídio de desemprego, um luxo que a nova geração nunca vai ter, pago por quem agora trabalha... a recibo verde. Há, de facto, muita justiça social em Portugal.
4. Portugal anda a brincar com o fogo. O que vai suceder é uma coisa feia: um choque entre gerações. Daqui a uns anos, os mais novos, simplesmente, vão dizer que “não, não pagamos mais”. Pela primeira vez, o choque eleitoral não se registá entre classes, valores ou regiões. Será um choque entre idades, entre escalões etários. Jovens explorados pela justiça social vs. velhos acomodados. Resta saber uma coisa: quem irá aproveitar a revolta dos jovens? Só existe uma força capaz disso: o PSD. Os partidos de esquerda não podem ajudar estes jovens explorados pela justiça social, de esquerda, e pelos direitos adquiridos, da constituição de esquerda.
5. Mas o PSD anda a dormir. É o soneca da política portuguesa. Dorme no pedaço. Não se trata de valores, meus caros. Já não peço isso. Já não peço que observem a injustiça lançada sobre esta geração. Mas peço uma coisa: aproveitem o imenso mercado eleitoral que está à espera de ser explorado. A malta está à espera. Os senhores, parece-me, ainda estão no negócio de ganhar eleições, ou não?
Revista Atlântico
Henrique Raposo
2. Mas a verdade é que já não quero saber se este orçamento carrega ainda mais na geração recibos verdes, a minha, aquela que anda a ser explorada pelos filhos de 1976. Não quero saber. Porque só quero saber uma coisa: quando é que matamos este regime? Matamos de matar e não de reformar.
Não respeito um regime que, em nome da justiça social, estraga o início de vida de milhares de casais a fim de proteger duas minorias: funcionários públicos e reformados. Quero apenas que este regime finde. Quero apenas que chegue um político com a coragem de dizer aquilo que toda a gente sabe mas que ainda é proibido dizer: “isto acabou! Vamos mudar de vida!”.
3. E os jornalistas? Que dizem desta geração? Nada. Os jovens das grandes cidades não podem ser os explorados do regime. Os explorados estéticos são outros. Basta fechar uma fabriqueta de sapatos algures no interior para que os “explorados” tenham 5 minutos de directo melodramático. Os jornalistas não percebem que os verdadeiros explorados trabalham mesmo ao seu lado, em Lisboa. Estão a trabalhar, agora, num call center qualquer, enquanto que os explorados estéticos estão a recolher o subsídio de desemprego, um luxo que a nova geração nunca vai ter, pago por quem agora trabalha... a recibo verde. Há, de facto, muita justiça social em Portugal.
4. Portugal anda a brincar com o fogo. O que vai suceder é uma coisa feia: um choque entre gerações. Daqui a uns anos, os mais novos, simplesmente, vão dizer que “não, não pagamos mais”. Pela primeira vez, o choque eleitoral não se registá entre classes, valores ou regiões. Será um choque entre idades, entre escalões etários. Jovens explorados pela justiça social vs. velhos acomodados. Resta saber uma coisa: quem irá aproveitar a revolta dos jovens? Só existe uma força capaz disso: o PSD. Os partidos de esquerda não podem ajudar estes jovens explorados pela justiça social, de esquerda, e pelos direitos adquiridos, da constituição de esquerda.
5. Mas o PSD anda a dormir. É o soneca da política portuguesa. Dorme no pedaço. Não se trata de valores, meus caros. Já não peço isso. Já não peço que observem a injustiça lançada sobre esta geração. Mas peço uma coisa: aproveitem o imenso mercado eleitoral que está à espera de ser explorado. A malta está à espera. Os senhores, parece-me, ainda estão no negócio de ganhar eleições, ou não?
Revista Atlântico
Henrique Raposo