quinta-feira, outubro 30, 2008
DISCURSO DE APRESENTAÇÃO DE SANTANA-MAIA LEONARDO À CÂMARA DE ABRANTES
Tal como a maioria dos portugueses, também eu estou profundamente desiludido com a nossa classe política que transformou o Estado e as autarquias num monstro com tentáculos enormes que esmaga, sufoca e asfixia todas as pessoas e empresas que têm a veleidade de querer viver fora da sua dependência. E se o PS é o pai biológico do monstro, o PSD é o seu pai afectivo porque sempre que esteve no poder alimentou-o e acarinhou-o como se fosse seu filho.
Foi, apenas por esta razão, que decidi afastar-me de toda e qualquer actividade politico-partidária e começar a pregar no deserto, como S. João Batista , através da publicação de crónicas em jornais, mais por descarga de consciência do que na esperança de que alguém me ouvisse.
O convite da comissão política de Abrantes do PSD apanhou-me, por isso, completamente de surpresa. Como qualquer pessoa facilmente concluirá, a solução mais cómoda e inteligente seria recusar o convite. Mas havia um problema: se eu recusasse o convite, deixava de ter autoridade moral para continuar a pregar no deserto.
Além disso, tenho no concelho de Abrantes as minhas raízes familiares e duas das minhas grandes referências morais: o meu tio João Santana Maia e o meu tio Manuel Santana Maia. O meu tio João, mais conservador, o meu tio Manuel, mais progressista, mas qualquer um deles com um alto sentido do dever, devotado aos outros e à causa pública.
O concelho de Abrantes é um caso típico de como os milhões e milhões de euros da união europeia que, desde 1993, desaguaram nas nossas autarquias, em nada contribuíram para cimentar aqueles valores que fortalecem as democracias e são o único e verdadeiro motor do desenvolvimento. Ou seja, o espírito crítico, a livre iniciativa, a independência da sociedade civil face ao poder político e a liberdade de expressão e de opinião.
Por alguma razão, estamos na cauda da Europa, excepto no que diz respeito à corrupção, ao clientelismo, ao compadrio e ao esbanjamento de dinheiros públicos em que ocupamos orgulhosamente um dos lugares cimeiros.
As obras públicas são importantes, obviamente. Mas mais importante do que as obras é cada um de nós sentir, em cada momento, que é um homem livre. Livre para pensar, livre para criticar e livre para fazer. E a única forma de se viver em liberdade na nossa terra é nunca permitirmos que alguém se sinta senhor do nosso voto ou dono do nosso concelho.
O 25 de Abril vendeu-nos a ilusão de que, com a decapitação do regime, o monstro fascista morria, libertando a sociedade civil das suas garras tentaculares. Foi um erro de análise. Ao contrário do que julgaram os militares de Abril, o monstro fascista não era um polvo, mas uma hidra. E com a decapitação do regime, as cabeças da hidra irromperam na nossa sociedade tomando conta do aparelho de Estado, das instituições, das autarquias e das associações.
Se queremos um Portugal mais justo, mais solidário, mais livre, onde se permeie efectivamente o mérito e o trabalho temos de matar a hidra. Eu sei que é um trabalho de Hércules. Mas só há uma maneira de o conseguir: através do exemplo. O exemplo é a única forma de ensinar. É no exemplo que se funda a verdadeira autoridade.
Fui o 1º classificado do curso de oficiais de Mafra e fiz o serviço militar no BIMec de Santa Margarida. A minha companhia era sempre escolhida para as demonstrações, devido ao seu elevado grau de operacionalidade.
A explicação para o sucesso da minha companhia é muito fácil de perceber. Nas outras companhias, os oficiais distinguiam-se por vestir casaco de cabedal, usar óculos escuros e dar ordens. Na minha companhia, os oficiais não se distinguiam dos soldados por nenhuma peça de vestuário porque só usavam as peças de vestuário que os soldados podiam usar. Na minha companhia, os oficiais distinguiam-se dos soldados por outras razões: nos exercícios, o oficial era o primeiro a fazê-los; nas refeições, o oficial era o último a ser servido.
E é assim que deve ser. Há uma grande diferença entre mandar e comandar. Quem manda dá ordens; quem comanda dá o exemplo. À medida que se sobe na escala hierárquica, devem aumentar as obrigações e diminuir os direitos.
Tem sido esta, aliás, a regra que tenho seguido sempre que tenho sido presidente do que quer que seja. E esta é a única maneira de matar a hidra, o tal monstro com tentáculos enormes que tomou conta do aparelho de Estado, das instituições, das autarquias e das associações.
Tenho a consciência de que o nosso exército é pequeno e que o combate vai ser duro e desequilibrado. Mas isso não nos deve desanimar, nem fazer desistir. O importante num combate não é estar do lado do exército maior e mais poderoso, mas estar do lado certo.
E este combate vai ser a nossa Aljubarrota. Em Aljubarrota, lutámos pela independência nacional, agora vamos lutar pela nossa independência, pela independência de cada um de nós face ao poder político.
A mudança de mentalidades e de comportamentos que protegem os amigos e os medíocres e penalizam quem cumpre e quem trabalha tem de começar por algum lado. E vai começar por aqui.
O meu repto vai para o povo de Abrantes, independentemente das suas convicções políticas ou religiosas.
Tal como em Aljubarrota, o nosso combate vai ter de ser feito com o povo e os homens livres deste concelho, porque a nobreza de Abrantes, cujos cargos, tachos e penachos dependem da câmara e do Governo, está toda ao lado de Castela, ou seja, do poder socialista.
Apelo, por isso, a todos aqueles que estão fartos de viver com a cabeça baixa e a mão estendida à espera da rodela de chouriço com que o poder socialista costuma comprar os votos dos pobres. Todos nós sabemos que os socialistas só dão uma rodela de chouriço a quem lhes der uma vara de porcos.
Povo de Abrantes! Homens livres de Abrantes! A vossa participação é essencial para vencer este combate decisivo por Abrantes, por Portugal e por cada um de nós.
Para se alistarem no nosso exército, só necessitam de três coisas: agarrar na consciência, endireitar a coluna e amar Abrantes.
http://amar-abrantes.blogs.sapo.pt/
Foi, apenas por esta razão, que decidi afastar-me de toda e qualquer actividade politico-partidária e começar a pregar no deserto, como S. João Batista , através da publicação de crónicas em jornais, mais por descarga de consciência do que na esperança de que alguém me ouvisse.
O convite da comissão política de Abrantes do PSD apanhou-me, por isso, completamente de surpresa. Como qualquer pessoa facilmente concluirá, a solução mais cómoda e inteligente seria recusar o convite. Mas havia um problema: se eu recusasse o convite, deixava de ter autoridade moral para continuar a pregar no deserto.
Além disso, tenho no concelho de Abrantes as minhas raízes familiares e duas das minhas grandes referências morais: o meu tio João Santana Maia e o meu tio Manuel Santana Maia. O meu tio João, mais conservador, o meu tio Manuel, mais progressista, mas qualquer um deles com um alto sentido do dever, devotado aos outros e à causa pública.
O concelho de Abrantes é um caso típico de como os milhões e milhões de euros da união europeia que, desde 1993, desaguaram nas nossas autarquias, em nada contribuíram para cimentar aqueles valores que fortalecem as democracias e são o único e verdadeiro motor do desenvolvimento. Ou seja, o espírito crítico, a livre iniciativa, a independência da sociedade civil face ao poder político e a liberdade de expressão e de opinião.
Por alguma razão, estamos na cauda da Europa, excepto no que diz respeito à corrupção, ao clientelismo, ao compadrio e ao esbanjamento de dinheiros públicos em que ocupamos orgulhosamente um dos lugares cimeiros.
As obras públicas são importantes, obviamente. Mas mais importante do que as obras é cada um de nós sentir, em cada momento, que é um homem livre. Livre para pensar, livre para criticar e livre para fazer. E a única forma de se viver em liberdade na nossa terra é nunca permitirmos que alguém se sinta senhor do nosso voto ou dono do nosso concelho.
O 25 de Abril vendeu-nos a ilusão de que, com a decapitação do regime, o monstro fascista morria, libertando a sociedade civil das suas garras tentaculares. Foi um erro de análise. Ao contrário do que julgaram os militares de Abril, o monstro fascista não era um polvo, mas uma hidra. E com a decapitação do regime, as cabeças da hidra irromperam na nossa sociedade tomando conta do aparelho de Estado, das instituições, das autarquias e das associações.
Se queremos um Portugal mais justo, mais solidário, mais livre, onde se permeie efectivamente o mérito e o trabalho temos de matar a hidra. Eu sei que é um trabalho de Hércules. Mas só há uma maneira de o conseguir: através do exemplo. O exemplo é a única forma de ensinar. É no exemplo que se funda a verdadeira autoridade.
Fui o 1º classificado do curso de oficiais de Mafra e fiz o serviço militar no BIMec de Santa Margarida. A minha companhia era sempre escolhida para as demonstrações, devido ao seu elevado grau de operacionalidade.
A explicação para o sucesso da minha companhia é muito fácil de perceber. Nas outras companhias, os oficiais distinguiam-se por vestir casaco de cabedal, usar óculos escuros e dar ordens. Na minha companhia, os oficiais não se distinguiam dos soldados por nenhuma peça de vestuário porque só usavam as peças de vestuário que os soldados podiam usar. Na minha companhia, os oficiais distinguiam-se dos soldados por outras razões: nos exercícios, o oficial era o primeiro a fazê-los; nas refeições, o oficial era o último a ser servido.
E é assim que deve ser. Há uma grande diferença entre mandar e comandar. Quem manda dá ordens; quem comanda dá o exemplo. À medida que se sobe na escala hierárquica, devem aumentar as obrigações e diminuir os direitos.
Tem sido esta, aliás, a regra que tenho seguido sempre que tenho sido presidente do que quer que seja. E esta é a única maneira de matar a hidra, o tal monstro com tentáculos enormes que tomou conta do aparelho de Estado, das instituições, das autarquias e das associações.
Tenho a consciência de que o nosso exército é pequeno e que o combate vai ser duro e desequilibrado. Mas isso não nos deve desanimar, nem fazer desistir. O importante num combate não é estar do lado do exército maior e mais poderoso, mas estar do lado certo.
E este combate vai ser a nossa Aljubarrota. Em Aljubarrota, lutámos pela independência nacional, agora vamos lutar pela nossa independência, pela independência de cada um de nós face ao poder político.
A mudança de mentalidades e de comportamentos que protegem os amigos e os medíocres e penalizam quem cumpre e quem trabalha tem de começar por algum lado. E vai começar por aqui.
O meu repto vai para o povo de Abrantes, independentemente das suas convicções políticas ou religiosas.
Tal como em Aljubarrota, o nosso combate vai ter de ser feito com o povo e os homens livres deste concelho, porque a nobreza de Abrantes, cujos cargos, tachos e penachos dependem da câmara e do Governo, está toda ao lado de Castela, ou seja, do poder socialista.
Apelo, por isso, a todos aqueles que estão fartos de viver com a cabeça baixa e a mão estendida à espera da rodela de chouriço com que o poder socialista costuma comprar os votos dos pobres. Todos nós sabemos que os socialistas só dão uma rodela de chouriço a quem lhes der uma vara de porcos.
Povo de Abrantes! Homens livres de Abrantes! A vossa participação é essencial para vencer este combate decisivo por Abrantes, por Portugal e por cada um de nós.
Para se alistarem no nosso exército, só necessitam de três coisas: agarrar na consciência, endireitar a coluna e amar Abrantes.
http://amar-abrantes.blogs.sapo.pt/
Santana-Maia candidato do PSD à Câmara Municipal de Abrantes
Ontem, dia 29 de Outubro, foi apresentado como candidato à Câmara Municipal de Abrantes, o nosso companheiro e conterrâneo, Dr Santana-Maia.
"O convite da comissão política de Abrantes do PSD apanhou-me, por isso, completamente de surpresa. Como qualquer pessoa facilmente concluirá, a solução mais cómoda e inteligente seria recusar o convite. Mas havia um problema: se eu recusasse o convite, deixava de ter autoridade moral para continuar a pregar no deserto. "
Assim justificou o convite do PSD de Abrantes para ser o candidato laranja.
A JSD de Ponte de Sor deseja boa sorte ao nosso companheiro Santana-Maia, que consiga alcançar os sucessos políticos que ambiciona e que acima de tudo sirva Abrantes e os seus munícipes da melhor forma possível.
"O convite da comissão política de Abrantes do PSD apanhou-me, por isso, completamente de surpresa. Como qualquer pessoa facilmente concluirá, a solução mais cómoda e inteligente seria recusar o convite. Mas havia um problema: se eu recusasse o convite, deixava de ter autoridade moral para continuar a pregar no deserto. "
Assim justificou o convite do PSD de Abrantes para ser o candidato laranja.
A JSD de Ponte de Sor deseja boa sorte ao nosso companheiro Santana-Maia, que consiga alcançar os sucessos políticos que ambiciona e que acima de tudo sirva Abrantes e os seus munícipes da melhor forma possível.
segunda-feira, outubro 27, 2008
O CASAMENTO DA TRETA
Miguel Vale de Almeida, no Público de 2/10, volta a lançar mão do estafado, desonesto e ridículo argumento do apartheid para definir aqueles que se opõem aos casamentos homossexuais. Seguindo este preclaro raciocínio, teríamos de concluir necessariamente que a imposição legal de haver casas de banho e prisões para homens e para mulheres era a maior demonstração de que vivíamos em pleno regime de apartheid.
Por sua vez, Pedro Múrias, no Público de 28/9, do alto da sua sapiência e superioridade moral reduz à condição de tretas todos os argumentos contra a transformação do casamento num contrato da treta.
A concepção do casamento como um contrato duradouro celebrado entre pessoas de sexo diferente que pretendem constituir família, segundo parece, está hoje fora de moda e é rejeitada pelas elites bem pensantes. E por que razão? Porque existe hoje um novo conceito de família que já não se restringe à família tradicional, constituída por pai, mãe e filho.
Absolutamente de acordo.
No entanto, não basta constatar isso para concluir, de imediato, pela necessidade de “travestir” o casamento num contrato descartável à medida e ao sabor de cada freguês. Até porque isso não é contrato, nem é nada. É apenas uma maneira inteligente de o Estado e os advogados passarem a cobrar dinheiro a casais de adultos que querem brincar aos casamentos.
Não há dúvida de que o casamento, tal como está (e sempre esteve) instituído, discrimina positivamente os casais heterossexuais. Mas o que importa saber, antes de mais, é se essa discriminação se justifica ou não. E, para isso, temos de responder a duas questões: 1) Portugal tem um problema de natalidade? 2) O Estado considera vantajoso que a criança cresça e seja educada pelos seus pais?
Se a resposta a estas duas perguntas for afirmativa, tal significa obrigatoriamente que o casamento, tal como está (e sempre esteve) instituído, não só continua ainda a fazer sentido como deve ser preservado, promovido e incentivado pelo Estado. Ou seja, o casamento, tal como está instituído, até pode não ter qualquer interesse para as pessoas, individualmente falando, mas continua a ter interesse para um Estado preocupado com a natalidade e com a educação dos menores. Consequentemente, cabe ao Estado tornar esse contrato atractivo, conferindo-lhe direitos e privilégios que não concede a outro tipo de relações, para que as pessoas optem por ele.
Agora o que não faz sentido é defender-se a abertura do casamento a casais homossexuais, com o argumento de que o casamento já não tem por objectivo a procriação, e depois manter os impedimentos com base no parentesco. Ora, as novas famílias não se limitam aos casais homossexuais, mas também a pai e filho, mãe e filha, tio e sobrinho e até a amigos heterossexuais que partilham a mesma casa e vivem em economia comum.
Ora, se um casal de lésbicas quer ter o direito a casar-se, para poder beneficiar dos direitos concedidos aos casais heterossexuais, por que razão duas irmãs solteiras que viveram juntas toda a vida também não poderão beneficiar dos mesmos direitos? Ou será que vai passar a ser obrigatório fazer sexo oral ou sexo anal para validar o casamento?
Santana-Maia Leonardo : http://sol.sapo.pt/blogs/contracorrente
Por sua vez, Pedro Múrias, no Público de 28/9, do alto da sua sapiência e superioridade moral reduz à condição de tretas todos os argumentos contra a transformação do casamento num contrato da treta.
A concepção do casamento como um contrato duradouro celebrado entre pessoas de sexo diferente que pretendem constituir família, segundo parece, está hoje fora de moda e é rejeitada pelas elites bem pensantes. E por que razão? Porque existe hoje um novo conceito de família que já não se restringe à família tradicional, constituída por pai, mãe e filho.
Absolutamente de acordo.
No entanto, não basta constatar isso para concluir, de imediato, pela necessidade de “travestir” o casamento num contrato descartável à medida e ao sabor de cada freguês. Até porque isso não é contrato, nem é nada. É apenas uma maneira inteligente de o Estado e os advogados passarem a cobrar dinheiro a casais de adultos que querem brincar aos casamentos.
Não há dúvida de que o casamento, tal como está (e sempre esteve) instituído, discrimina positivamente os casais heterossexuais. Mas o que importa saber, antes de mais, é se essa discriminação se justifica ou não. E, para isso, temos de responder a duas questões: 1) Portugal tem um problema de natalidade? 2) O Estado considera vantajoso que a criança cresça e seja educada pelos seus pais?
Se a resposta a estas duas perguntas for afirmativa, tal significa obrigatoriamente que o casamento, tal como está (e sempre esteve) instituído, não só continua ainda a fazer sentido como deve ser preservado, promovido e incentivado pelo Estado. Ou seja, o casamento, tal como está instituído, até pode não ter qualquer interesse para as pessoas, individualmente falando, mas continua a ter interesse para um Estado preocupado com a natalidade e com a educação dos menores. Consequentemente, cabe ao Estado tornar esse contrato atractivo, conferindo-lhe direitos e privilégios que não concede a outro tipo de relações, para que as pessoas optem por ele.
Agora o que não faz sentido é defender-se a abertura do casamento a casais homossexuais, com o argumento de que o casamento já não tem por objectivo a procriação, e depois manter os impedimentos com base no parentesco. Ora, as novas famílias não se limitam aos casais homossexuais, mas também a pai e filho, mãe e filha, tio e sobrinho e até a amigos heterossexuais que partilham a mesma casa e vivem em economia comum.
Ora, se um casal de lésbicas quer ter o direito a casar-se, para poder beneficiar dos direitos concedidos aos casais heterossexuais, por que razão duas irmãs solteiras que viveram juntas toda a vida também não poderão beneficiar dos mesmos direitos? Ou será que vai passar a ser obrigatório fazer sexo oral ou sexo anal para validar o casamento?
Santana-Maia Leonardo : http://sol.sapo.pt/blogs/contracorrente
terça-feira, outubro 14, 2008
Ver!
O COPO DE ÁGUA
Apesar de defender a limitação de mandatos, não acredito que a lei que impede a reeleição sucessiva dos autarcas por mais de três mandatos venha alguma vez a ser aplicada. Só quem não conheça o país em que vivemos pode acreditar nisso. Sendo certo que já começamos a assistir a movimentações nos diferentes partidos para que a mesma seja alterada, antes mesmo de ser experimentada.
Seria, de facto, exigir muito de uma classe política mais identificada com a exemplar democracia de sucesso angolana do que com as velhas democracias do norte da Europa… Por alguma coisa, Salazar e Cunhal continuam ainda a ser as duas grandes âncoras da esmagadora maioria dos portugueses. Aliás, depois de 48 anos de salazarismo, alguém se consegue imaginar a viver num país sem caciques, sem corrupção e sem cunhas? Isto está tão enraizado no nosso ADN colectivo que somos completamente incapazes de sobreviver sem um pastor que nos guie. Por alguma razão, nos identificamos mais com os africanos e os sul-americanos do que com os europeus e os americanos.
Quero com isto dizer que o poder corrompe até um homem íntegro? Ninguém tenha dúvidas disso. Como dizia Lord Acton, «todo o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente».
O poder é como um copo de água. Qualquer pessoa consegue levantá-lo e mantê-lo suspenso no ar durante algum tempo. Mas não há ninguém, por muito forte que seja, que não ceda ao peso do copo, se estiver com ele na mão durante muito tempo. Só há uma forma de uma pessoa íntegra não se deixar corromper: não permanecer muito tempo no cargo (no máximo, dois mandatos). A partir daqui, até um braço íntegro começa a ceder ao peso do copo de água.
Em qualquer país decente, a limitação de mandatos é vista como um garante indispensável para que o poder possa ser exercido em prol da comunidade e não do próprio. Com efeito, como já está hoje cientificamente demonstrado, a longa permanência no poder altera a personalidade: torna as pessoas autoritárias e arrogantes, convence-as de que estão acima da lei e, muitas vezes, que são a própria lei. Leva-as a confundirem-se com o cargo, servindo-se dos bens da instituição e usando o dinheiro desta com se estivessem na sua inteira disponibilidade. Por outro lado, transformam-se em autênticos eucaliptos, apenas aceitando estar rodeados de espelhos que, a toda a hora, lhe recordem que não há no mundo presidente mais bonito do que eles.
Além disso, não há nada mais destrutivo das qualidades de uma pessoa do que a rotina. A rotina é uma fábrica de criar vícios. Por alguma razão, nenhuma multinacional americana mantém por muito tempo o mesmo director à frente das suas empresas, por muito excepcional que ele seja.
Sem esquecer que é muito difícil avaliar a boa ou má gestão dos dinheiros públicos e o nível de corrupção e compadrio existente num município com o presidente no exercício de funções, tendo em conta a teia de cumplicidades que o exercício do cargo sempre cria e o fundado temor que o mesmo inspira nos funcionários e nos munícipes.
Santana-Maia Leonardo : http://sol.sapo.pt/blogs/contracorrente
Seria, de facto, exigir muito de uma classe política mais identificada com a exemplar democracia de sucesso angolana do que com as velhas democracias do norte da Europa… Por alguma coisa, Salazar e Cunhal continuam ainda a ser as duas grandes âncoras da esmagadora maioria dos portugueses. Aliás, depois de 48 anos de salazarismo, alguém se consegue imaginar a viver num país sem caciques, sem corrupção e sem cunhas? Isto está tão enraizado no nosso ADN colectivo que somos completamente incapazes de sobreviver sem um pastor que nos guie. Por alguma razão, nos identificamos mais com os africanos e os sul-americanos do que com os europeus e os americanos.
Quero com isto dizer que o poder corrompe até um homem íntegro? Ninguém tenha dúvidas disso. Como dizia Lord Acton, «todo o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente».
O poder é como um copo de água. Qualquer pessoa consegue levantá-lo e mantê-lo suspenso no ar durante algum tempo. Mas não há ninguém, por muito forte que seja, que não ceda ao peso do copo, se estiver com ele na mão durante muito tempo. Só há uma forma de uma pessoa íntegra não se deixar corromper: não permanecer muito tempo no cargo (no máximo, dois mandatos). A partir daqui, até um braço íntegro começa a ceder ao peso do copo de água.
Em qualquer país decente, a limitação de mandatos é vista como um garante indispensável para que o poder possa ser exercido em prol da comunidade e não do próprio. Com efeito, como já está hoje cientificamente demonstrado, a longa permanência no poder altera a personalidade: torna as pessoas autoritárias e arrogantes, convence-as de que estão acima da lei e, muitas vezes, que são a própria lei. Leva-as a confundirem-se com o cargo, servindo-se dos bens da instituição e usando o dinheiro desta com se estivessem na sua inteira disponibilidade. Por outro lado, transformam-se em autênticos eucaliptos, apenas aceitando estar rodeados de espelhos que, a toda a hora, lhe recordem que não há no mundo presidente mais bonito do que eles.
Além disso, não há nada mais destrutivo das qualidades de uma pessoa do que a rotina. A rotina é uma fábrica de criar vícios. Por alguma razão, nenhuma multinacional americana mantém por muito tempo o mesmo director à frente das suas empresas, por muito excepcional que ele seja.
Sem esquecer que é muito difícil avaliar a boa ou má gestão dos dinheiros públicos e o nível de corrupção e compadrio existente num município com o presidente no exercício de funções, tendo em conta a teia de cumplicidades que o exercício do cargo sempre cria e o fundado temor que o mesmo inspira nos funcionários e nos munícipes.
Santana-Maia Leonardo : http://sol.sapo.pt/blogs/contracorrente