quarta-feira, julho 26, 2006
DOMVS IVSTITIAE
Neste país de hipócritas e cunhas,
O Direito e a Lei são instrumentos
(como tão bem se vê p’los julgamentos)
Para os quais só os ricos têm unhas.
A Justiça não é o que supunhas.
Sem gente com vontade e com talento,
Vai morrendo por cada adiamento,
Quando morta não é p’las testemunhas.
Se tu não tens dinheiro ou conhecido
Na t’levisão, na rádio ou na imprensa,
Podes ter a certeza: estás fodido!
Aqui não esperes mais do que indif’rença.
Deves mesmo ficar agradecido
Se não morreres antes da sentença.
BOCAGE, MEU IRMÃO
poesia satírica
Santana-Maia Leonardo
O Direito e a Lei são instrumentos
(como tão bem se vê p’los julgamentos)
Para os quais só os ricos têm unhas.
A Justiça não é o que supunhas.
Sem gente com vontade e com talento,
Vai morrendo por cada adiamento,
Quando morta não é p’las testemunhas.
Se tu não tens dinheiro ou conhecido
Na t’levisão, na rádio ou na imprensa,
Podes ter a certeza: estás fodido!
Aqui não esperes mais do que indif’rença.
Deves mesmo ficar agradecido
Se não morreres antes da sentença.
BOCAGE, MEU IRMÃO
poesia satírica
Santana-Maia Leonardo
ISTO NÃO É UM PAÍS
É um rebanho de ovelhas
Ao reduzir a escrito a cláusula da “lei da rolha” na atribuição de apoio e subsídios autárquicos a jornais regionais e diferentes instituições, Rui Rio e Luís Filipe Menezes tiveram, pelo menos, o mérito de assumir às claras aquilo que quase todos (ou todos) os autarcas fazem às escuras. Quem tem a sorte de viver em Lisboa não sabe, nem imagina sequer o que sofrem, por esse país fora, todos aqueles que ousam manifestar publicamente qualquer pequena discordância com os senhores presidentes da Câmara. É muito pior do que no tempo do fascismo, porque, nesse tempo, pequenas críticas ainda eram toleradas, o que agora não acontece. E as consequências não se resumem, obviamente, aos cortes dos apoios às colectividades que essas pessoas representam, até porque essas pessoas nem sequer têm direito a representar qualquer colectividade. E quanto mais poder tem o pastor, mais as pessoas que não aceitam ser tratadas como ovelhas são perseguidas, perante a indiferença geral do rebanho.
Fui educado na veneração da nossa História e no orgulho de ser português. No entanto, quando agora olho à minha volta, só tenho motivos para me envergonhar. Nós não somos um país, somos um rebanho de ovelhas: um povo amoroso, pacífico, intelectualmente limitado, incapaz de um gesto de revolta, mesmo quando somos esfolados vivos, e que precisa de um pastor que pense por nós e nos guie, para não morrermos de fome e de sede.
É, por isso, natural que os portugueses nutram uma subserviência especial por todos aqueles que usam o cajado, sejam eles presidentes da Câmara, ministros ou o seleccionador nacional. Isto só confirma as teses do Marquês de Pombal e do Salazar: «os portugueses só trabalham de chicote na mão» e a felicidade dos portugueses assenta precisamente na sua ignorância, Não admira, pois, que as coisas aqui falhem, sempre que um iluminado vai beber o exemplo na Inglaterra ou na Finlândia, países onde as leis são feitas para homens livres e não para ovelhas ranhosas.
Recordo aqui a carta recentemente publicada no Público e no Expresso, para enlevo do pastor e do rebanho, de uma professora que pedia à senhora ministra da Educação para não desistir. E por que razão, segundo a referida professora, não devia desistir a ministra? Porque era ministra e confiava nela como em todos os seus antecessores que também classificava de bons ministros (imaginem se tivessem sido maus…) e que a única crítica que lhes fazia era o facto de terem desistido (desistido? Nunca deviam era lá ter posto os pés…).
No entanto, para ganhar coragem para dizer isto, a referida professora, à semelhança da aluna bem comportada que quer dar graxa à “sôtora”, tremeu que nem varas verdes fantasiando todo o tipo de represálias que iria sofrer dos seus colegas cábulas. Ora, se uma professora para elogiar a ministra, precisa de ganhar tanta coragem, imagine-se se quisesse criticá-la. Devia dar-lhe um colapso. E, pelo meio lá foi dizendo aquilo que todos os pastores gostam de ouvir das suas ovelhas: não gosto de discutir política, não tenho partido, nem estou sindicalizada, apenas gosto de ensinar.
Infelizmente, o que há por aí mais são professores que gostam muito de ensinar. Não gostam de discutir política, nem economia, nem literatura, nem cinema, nem pintura, de que, na verdade, não percebem nada. Não compram um livro, nem têm tempo para ler, nem para ir ao cinema, nem para assistir a qualquer espectáculo cultural. No entanto, gostam muito de ensinar. Mas ensinar o quê?, pergunto eu. Mal vai um país quando os professores acham que é muito importante os alunos saberem aquilo que os professores tiveram de estudar na véspera para lhes ensinar. O que nós verdadeiramente precisamos não é de professores que gostem muito de ensinar mas de professores que tenham alguma coisa para ensinar. Ou seja, professores com carácter, conhecimento, espírito aberto e convicções fortes, capazes de formar homens livres e não ovelhas ranhosas.
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha
Ao reduzir a escrito a cláusula da “lei da rolha” na atribuição de apoio e subsídios autárquicos a jornais regionais e diferentes instituições, Rui Rio e Luís Filipe Menezes tiveram, pelo menos, o mérito de assumir às claras aquilo que quase todos (ou todos) os autarcas fazem às escuras. Quem tem a sorte de viver em Lisboa não sabe, nem imagina sequer o que sofrem, por esse país fora, todos aqueles que ousam manifestar publicamente qualquer pequena discordância com os senhores presidentes da Câmara. É muito pior do que no tempo do fascismo, porque, nesse tempo, pequenas críticas ainda eram toleradas, o que agora não acontece. E as consequências não se resumem, obviamente, aos cortes dos apoios às colectividades que essas pessoas representam, até porque essas pessoas nem sequer têm direito a representar qualquer colectividade. E quanto mais poder tem o pastor, mais as pessoas que não aceitam ser tratadas como ovelhas são perseguidas, perante a indiferença geral do rebanho.
Fui educado na veneração da nossa História e no orgulho de ser português. No entanto, quando agora olho à minha volta, só tenho motivos para me envergonhar. Nós não somos um país, somos um rebanho de ovelhas: um povo amoroso, pacífico, intelectualmente limitado, incapaz de um gesto de revolta, mesmo quando somos esfolados vivos, e que precisa de um pastor que pense por nós e nos guie, para não morrermos de fome e de sede.
É, por isso, natural que os portugueses nutram uma subserviência especial por todos aqueles que usam o cajado, sejam eles presidentes da Câmara, ministros ou o seleccionador nacional. Isto só confirma as teses do Marquês de Pombal e do Salazar: «os portugueses só trabalham de chicote na mão» e a felicidade dos portugueses assenta precisamente na sua ignorância, Não admira, pois, que as coisas aqui falhem, sempre que um iluminado vai beber o exemplo na Inglaterra ou na Finlândia, países onde as leis são feitas para homens livres e não para ovelhas ranhosas.
Recordo aqui a carta recentemente publicada no Público e no Expresso, para enlevo do pastor e do rebanho, de uma professora que pedia à senhora ministra da Educação para não desistir. E por que razão, segundo a referida professora, não devia desistir a ministra? Porque era ministra e confiava nela como em todos os seus antecessores que também classificava de bons ministros (imaginem se tivessem sido maus…) e que a única crítica que lhes fazia era o facto de terem desistido (desistido? Nunca deviam era lá ter posto os pés…).
No entanto, para ganhar coragem para dizer isto, a referida professora, à semelhança da aluna bem comportada que quer dar graxa à “sôtora”, tremeu que nem varas verdes fantasiando todo o tipo de represálias que iria sofrer dos seus colegas cábulas. Ora, se uma professora para elogiar a ministra, precisa de ganhar tanta coragem, imagine-se se quisesse criticá-la. Devia dar-lhe um colapso. E, pelo meio lá foi dizendo aquilo que todos os pastores gostam de ouvir das suas ovelhas: não gosto de discutir política, não tenho partido, nem estou sindicalizada, apenas gosto de ensinar.
Infelizmente, o que há por aí mais são professores que gostam muito de ensinar. Não gostam de discutir política, nem economia, nem literatura, nem cinema, nem pintura, de que, na verdade, não percebem nada. Não compram um livro, nem têm tempo para ler, nem para ir ao cinema, nem para assistir a qualquer espectáculo cultural. No entanto, gostam muito de ensinar. Mas ensinar o quê?, pergunto eu. Mal vai um país quando os professores acham que é muito importante os alunos saberem aquilo que os professores tiveram de estudar na véspera para lhes ensinar. O que nós verdadeiramente precisamos não é de professores que gostem muito de ensinar mas de professores que tenham alguma coisa para ensinar. Ou seja, professores com carácter, conhecimento, espírito aberto e convicções fortes, capazes de formar homens livres e não ovelhas ranhosas.
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha
terça-feira, julho 11, 2006
O EIXO DO MAL E OS PAIS DA BELA ADORMECIDA
No programa da Sic Notícias «O Eixo do Mal», veio à baila os fracos conhecimentos dos nossos jovens. E todos eram unânimes em atribuir à escola grande parte da responsabilidade pela situação: muita indisciplina, pouca exigência, falta de autoridade do professor, etc. Mas o que os preocupava mesmo era o facto de serem estes jovens impreparados que iam governar o país amanhã.
Porque esta é uma preocupação geral, quero aproveitar, no entanto, para descansar o país. Na verdade, é impossível estes jovens fazerem uma governação pior do que aqueles que lá têm estado nos últimos anos. Por mim, até começavam era a governar já hoje. Além disso, quanto à pouca preparação que a escola lhes dá, não são propriamente as pessoas da minha geração e da geração que a antecedeu as que têm mais autoridade para falar sobre isso.
Façamos um esforço de memória. A senhora ministra da Educação, por exemplo, licenciou-se em 1978, na Faculdade de Letras de Lisboa, precisamente no ano lectivo em que eu entrei. Acontece que a Faculdade de Letras de Lisboa, nesse ano lectivo, só abriu em Maio, o que levou a que a minha mãe me obrigasse a transferir para Coimbra, onde as aulas começaram em Janeiro e onde, da avaliação dos alunos, voltaram a constar frequências e exames. Em Lisboa, recorde-se, ainda se estava na fase dos trabalhos em grupo.
E já agora ainda se lembram da disciplina, do grau de exigência, da assiduidade e do nível dos professores que havia entre 1974 e 1978? Os melhores professores foram saneados. Os alunos recém-formados foram ordenados professores, segundo o princípio de que o melhor professor era aquele que tivesse sido aluno há pouco tempo, porque era esse que conhecia melhor as dificuldades do alunos. Às aulas só ia quem queria e quando as havia. As escolas e as universidades andavam ao sabor da célebres RGA (Reunião Geral de Alunos) que eram, na prática, quem detinha o poder efectivo. E, se alguém se atrevesse a falar em exames ou frequências, corria o risco de não sair dali vivo. Isso era considerado fascismo. O grau de exigência universitário era tal que um conhecido meu, que se tinha matriculado no primeiro ano de Economia para ir comer à cantina, ao pretender renovar a matrícula no ano seguinte, foi informado de que tinha passado para o 2º ano, sem nunca ter entrado numa sala de aula.
É verdade que a minha geração e a geração que me antecedeu liam muito mais do que a nova geração. Eu chegava a ler 40 livros por mês. Pudera! Não tinha mais nada para fazer, para além de mandar umas bocas nas RGA, beber uns copos com os amigos e etc. Viva o amor livre! E a maior parte dos meus colegas ainda mandavam umas “passas”.
E é agora esta geração (pasme-se!) que fica a tremer se os seus filhos tiverem um intervalo de 10 minutos para ir ao café!!!!... Impressionante!
O meu avô e a minha mãe é que tinham razão: coitado do país quando a minha geração chegasse ao poder! Ou seja, nós fomos aqueles contra quem agora prevenimos os nossos filhos. E, como trememos só de pensar que os nossos filhos possam passar pelos perigos que nós corremos, armamo-nos em pais da Bela Adormecida que, para a impedirem de se picar quando chegasse à idade perigosa, mandaram cortar todos os espinhos do reino. E tal como os pais da Bela Adormecida, também nós continuamos a ficar admirados quando constatamos que, apesar de termos cortado todos os espinhos do caminho dos nossos filhos, eles, mesmo assim, continuam a picar-se. Mas é o que sucede a quem foi habituado a viver num mundo sem espinhos…
E já agora adivinhem quem disse isto: 1) «A nossa juventude ama o luxo, é mal-educada, zomba da autoridade e não tem nenhuma espécie de respeito pelos velhos»; 2) «Não tenho nenhuma esperança no futuro do nosso país, se a juventude de hoje toma o mando amanhã, porque esta juventude é insuportável, sem moderação. Simplesmente terrível»; 3) «O nosso mundo atingiu um estado crítico. Os filhos não escutam os seus pais. O fim do mundo não pode estar muito longe»; 4) «Esta juventude está podre desde o fundo do coração. Os jovens são maus e preguiçosos. Não serão nunca a Juventude de outrora.».
A frase 1 foi dita por Sócrates (filósofo grego - séc.IV a.C.), a frase 2 por Hesíodo (séc.VIII a.C.), a frase 3 por um sacerdote egípcio (2.000 a.C) e a frase IV foi descoberta numa olaria da Babilónia (3.000 a.C.).
Como se constata, a minha geração (a geração dos nossos governantes), para além de incompetente e ter falta de memória, não é nada original nas suas afirmações.
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha
Porque esta é uma preocupação geral, quero aproveitar, no entanto, para descansar o país. Na verdade, é impossível estes jovens fazerem uma governação pior do que aqueles que lá têm estado nos últimos anos. Por mim, até começavam era a governar já hoje. Além disso, quanto à pouca preparação que a escola lhes dá, não são propriamente as pessoas da minha geração e da geração que a antecedeu as que têm mais autoridade para falar sobre isso.
Façamos um esforço de memória. A senhora ministra da Educação, por exemplo, licenciou-se em 1978, na Faculdade de Letras de Lisboa, precisamente no ano lectivo em que eu entrei. Acontece que a Faculdade de Letras de Lisboa, nesse ano lectivo, só abriu em Maio, o que levou a que a minha mãe me obrigasse a transferir para Coimbra, onde as aulas começaram em Janeiro e onde, da avaliação dos alunos, voltaram a constar frequências e exames. Em Lisboa, recorde-se, ainda se estava na fase dos trabalhos em grupo.
E já agora ainda se lembram da disciplina, do grau de exigência, da assiduidade e do nível dos professores que havia entre 1974 e 1978? Os melhores professores foram saneados. Os alunos recém-formados foram ordenados professores, segundo o princípio de que o melhor professor era aquele que tivesse sido aluno há pouco tempo, porque era esse que conhecia melhor as dificuldades do alunos. Às aulas só ia quem queria e quando as havia. As escolas e as universidades andavam ao sabor da célebres RGA (Reunião Geral de Alunos) que eram, na prática, quem detinha o poder efectivo. E, se alguém se atrevesse a falar em exames ou frequências, corria o risco de não sair dali vivo. Isso era considerado fascismo. O grau de exigência universitário era tal que um conhecido meu, que se tinha matriculado no primeiro ano de Economia para ir comer à cantina, ao pretender renovar a matrícula no ano seguinte, foi informado de que tinha passado para o 2º ano, sem nunca ter entrado numa sala de aula.
É verdade que a minha geração e a geração que me antecedeu liam muito mais do que a nova geração. Eu chegava a ler 40 livros por mês. Pudera! Não tinha mais nada para fazer, para além de mandar umas bocas nas RGA, beber uns copos com os amigos e etc. Viva o amor livre! E a maior parte dos meus colegas ainda mandavam umas “passas”.
E é agora esta geração (pasme-se!) que fica a tremer se os seus filhos tiverem um intervalo de 10 minutos para ir ao café!!!!... Impressionante!
O meu avô e a minha mãe é que tinham razão: coitado do país quando a minha geração chegasse ao poder! Ou seja, nós fomos aqueles contra quem agora prevenimos os nossos filhos. E, como trememos só de pensar que os nossos filhos possam passar pelos perigos que nós corremos, armamo-nos em pais da Bela Adormecida que, para a impedirem de se picar quando chegasse à idade perigosa, mandaram cortar todos os espinhos do reino. E tal como os pais da Bela Adormecida, também nós continuamos a ficar admirados quando constatamos que, apesar de termos cortado todos os espinhos do caminho dos nossos filhos, eles, mesmo assim, continuam a picar-se. Mas é o que sucede a quem foi habituado a viver num mundo sem espinhos…
E já agora adivinhem quem disse isto: 1) «A nossa juventude ama o luxo, é mal-educada, zomba da autoridade e não tem nenhuma espécie de respeito pelos velhos»; 2) «Não tenho nenhuma esperança no futuro do nosso país, se a juventude de hoje toma o mando amanhã, porque esta juventude é insuportável, sem moderação. Simplesmente terrível»; 3) «O nosso mundo atingiu um estado crítico. Os filhos não escutam os seus pais. O fim do mundo não pode estar muito longe»; 4) «Esta juventude está podre desde o fundo do coração. Os jovens são maus e preguiçosos. Não serão nunca a Juventude de outrora.».
A frase 1 foi dita por Sócrates (filósofo grego - séc.IV a.C.), a frase 2 por Hesíodo (séc.VIII a.C.), a frase 3 por um sacerdote egípcio (2.000 a.C) e a frase IV foi descoberta numa olaria da Babilónia (3.000 a.C.).
Como se constata, a minha geração (a geração dos nossos governantes), para além de incompetente e ter falta de memória, não é nada original nas suas afirmações.
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha
quinta-feira, julho 06, 2006
OS PAIS DO MONSTRO
No passado domingo, saíram no “Público” um artigo de opinião de António Borges e uma entrevista de Nuno Crato sobre a Educação e a senda reformadora da actual ministra. Da sua leitura, constata-se, por um lado, a grande clarividência e competência com que Nuno Crato fala de uma realidade que mostra conhecer bem; e, por outro, a ligeireza confrangeradora com que António Borges se decide mandar uns palpites sobre uma realidade que dá mostras de desconhecer.
Como militante do PSD (se bem que afastado das lides há já alguns anos) que depositava fundadas esperanças em António Borges, foi um autêntico balde de água fria, na medida em que esperava que um indivíduo com a sua formação e as suas ambições políticas não arriscasse uma opinião sobre um tema tão importante sem estar minimamente documentado para o fazer.
Mas a posição de António Borges, à semelhança de Cavaco Silva, José Miguel Júdice, Marcelo Rebelo de Sousa, etc. contribui apenas para que todos fiquemos a compreender por que razão o PSD foi um dos grandes responsáveis pelo afundamento da ensino público em Portugal. Provavelmente, por terem tido a sorte de ter podido educar os seus filhos em escolas privadas, conhecem apenas do ensino público os resultados estatísticos. Ou seja, sabem que o ensino público está doente, mas desconhecem o doente e a doença, o que é fundamental para se poder fazer um diagnóstico correcto e receitar a medicamentação adequada.
Pessoalmente, não conhecia a ministra da Educação, mas, francamente, não tive sequer tempo de alimentar ilusões. Bastou-me saber quem eram os seus secretários de Estado. E seria, de facto, um milagre que, com estes secretários de Estado, pudesse sair daquele Ministério uma ideia minimamente sensata ou razoável.
Ao contrário do que a ministra apregoa (conseguindo, dessa forma, cativar a direita irracional), entre a Fenprof e a ministra nada de essencial os separa no que respeita aos fundamentos teóricos que liquidaram a Educação em Portugal e de que Ana Benavente e Valter Lemos são duas grandes referências. O que divide a ministra e a Fenprof são meras questões salariais (progressão na carreira, idade da reforma, etc.).
Ao contrário do que António Borges parece acreditar, a actual ministra não manifesta qualquer preocupação com o combate à iliteracia (o verdadeiro insucesso escolar), mas apenas com o insucesso escolar estatístico. Com efeito, as reformas em curso só, aparentemente, se destinam a reforçar o grau de exigência do ensino, porque, na prática, apenas promovem, no ensino público, a mediocridade e o laxismo, forçando um sucesso escolar absolutamente artificial. A não ser que a estratégia do Governo e do PSD para a Educação, passe, precisamente, pela criação das escolas de nível: as escolas privadas, destinadas às elites e para aqueles que querem prosseguir os seus estudos, e as escolas públicas para o resto da maralha.
Se os dirigentes do PSD não estivessem, eles próprios, contaminados pelo dogmas do caldo de cultura pós-revolucionária onde cresceram e se preocupassem efectivamente em apresentar propostas sérias para a Educação com vista a promover a qualidade do ensino, já teriam defendido (pelo menos) as seguintes medidas: 1) Redução do número de disciplinas e do número de horas lectivas; 2) Exames nos finais de ciclo (4º, 6º, 9º e 12º anos) para aferir o nível dos alunos; 3) Criação de turmas de nível, a partir dos resultados dos exames: elevado, médio e baixo, sendo os dois níveis mais baixos obrigatoriamente profissionalizantes (os alunos nunca deviam reprovar mas apenas mudar de nível. O grande mal do nosso ensino são as reprovações, uma vez que começam a misturar na mesma turma garotos com matulões cheios de vícios, em que os piores são sempre os mais velhos e os mais fortes e que, por isso, se tornam os lideres da turma); 4) Avaliação dos professores pelos resultados obtidos (mas, para isso, são fundamentais os exames para se saber o que cada professor conseguiu acrescentar aos seus alunos); 6) Aulas de apoio para os alunos com dificuldades ou que as requeiram (com a actual carga horária, as aulas de apoio são uma estupidez); 7) Reforço da autoridade do professor e criação de escolas especiais para alunos com graves problemas disciplinares (professores, funcionários e alunos não podem ficar reféns de alunos extremamente violentos e insolentes que não respeitam nada, nem ninguém); 8) Criação de actividades extracurriculares (clubes, salas de estudo, disciplinas facultativas, etc.), mas apenas para os alunos cujos pais queiram (por que razão têm os filhos de passar na escola uma data de horas com actividades absolutamente inúteis, se os pais tiverem possibilidade de lhes proporcionar fora da escola actividades muito mais interessantes?)
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha
Como militante do PSD (se bem que afastado das lides há já alguns anos) que depositava fundadas esperanças em António Borges, foi um autêntico balde de água fria, na medida em que esperava que um indivíduo com a sua formação e as suas ambições políticas não arriscasse uma opinião sobre um tema tão importante sem estar minimamente documentado para o fazer.
Mas a posição de António Borges, à semelhança de Cavaco Silva, José Miguel Júdice, Marcelo Rebelo de Sousa, etc. contribui apenas para que todos fiquemos a compreender por que razão o PSD foi um dos grandes responsáveis pelo afundamento da ensino público em Portugal. Provavelmente, por terem tido a sorte de ter podido educar os seus filhos em escolas privadas, conhecem apenas do ensino público os resultados estatísticos. Ou seja, sabem que o ensino público está doente, mas desconhecem o doente e a doença, o que é fundamental para se poder fazer um diagnóstico correcto e receitar a medicamentação adequada.
Pessoalmente, não conhecia a ministra da Educação, mas, francamente, não tive sequer tempo de alimentar ilusões. Bastou-me saber quem eram os seus secretários de Estado. E seria, de facto, um milagre que, com estes secretários de Estado, pudesse sair daquele Ministério uma ideia minimamente sensata ou razoável.
Ao contrário do que a ministra apregoa (conseguindo, dessa forma, cativar a direita irracional), entre a Fenprof e a ministra nada de essencial os separa no que respeita aos fundamentos teóricos que liquidaram a Educação em Portugal e de que Ana Benavente e Valter Lemos são duas grandes referências. O que divide a ministra e a Fenprof são meras questões salariais (progressão na carreira, idade da reforma, etc.).
Ao contrário do que António Borges parece acreditar, a actual ministra não manifesta qualquer preocupação com o combate à iliteracia (o verdadeiro insucesso escolar), mas apenas com o insucesso escolar estatístico. Com efeito, as reformas em curso só, aparentemente, se destinam a reforçar o grau de exigência do ensino, porque, na prática, apenas promovem, no ensino público, a mediocridade e o laxismo, forçando um sucesso escolar absolutamente artificial. A não ser que a estratégia do Governo e do PSD para a Educação, passe, precisamente, pela criação das escolas de nível: as escolas privadas, destinadas às elites e para aqueles que querem prosseguir os seus estudos, e as escolas públicas para o resto da maralha.
Se os dirigentes do PSD não estivessem, eles próprios, contaminados pelo dogmas do caldo de cultura pós-revolucionária onde cresceram e se preocupassem efectivamente em apresentar propostas sérias para a Educação com vista a promover a qualidade do ensino, já teriam defendido (pelo menos) as seguintes medidas: 1) Redução do número de disciplinas e do número de horas lectivas; 2) Exames nos finais de ciclo (4º, 6º, 9º e 12º anos) para aferir o nível dos alunos; 3) Criação de turmas de nível, a partir dos resultados dos exames: elevado, médio e baixo, sendo os dois níveis mais baixos obrigatoriamente profissionalizantes (os alunos nunca deviam reprovar mas apenas mudar de nível. O grande mal do nosso ensino são as reprovações, uma vez que começam a misturar na mesma turma garotos com matulões cheios de vícios, em que os piores são sempre os mais velhos e os mais fortes e que, por isso, se tornam os lideres da turma); 4) Avaliação dos professores pelos resultados obtidos (mas, para isso, são fundamentais os exames para se saber o que cada professor conseguiu acrescentar aos seus alunos); 6) Aulas de apoio para os alunos com dificuldades ou que as requeiram (com a actual carga horária, as aulas de apoio são uma estupidez); 7) Reforço da autoridade do professor e criação de escolas especiais para alunos com graves problemas disciplinares (professores, funcionários e alunos não podem ficar reféns de alunos extremamente violentos e insolentes que não respeitam nada, nem ninguém); 8) Criação de actividades extracurriculares (clubes, salas de estudo, disciplinas facultativas, etc.), mas apenas para os alunos cujos pais queiram (por que razão têm os filhos de passar na escola uma data de horas com actividades absolutamente inúteis, se os pais tiverem possibilidade de lhes proporcionar fora da escola actividades muito mais interessantes?)
Santana-Maia Leonardo, in Primeira Linha